1 -
Pisa o pé espondeu a geometria
da régua de seus passos
e respondem os jambos
da curva dos quadrís.
2 -
Pisa a ponta do pé
artelhos regem calcanhar, tornozelo
e na reta escandida
arredondam-se as linhas calipígias.
3 -
Caminham, dançam
breves obeliscos
obeliscas - odaliscas -
e sempre
da planta de seus pés linheiros
floresce a pétala das curvas.
4 -
Flama serias, tu,
quem sabe mastro de alguma caravela
e em teu rastro quando
incorporar-se a cor da labareda no ar
ao sopro ao vento se balancem côncavos
os favos dessa vela:
coisa de palmeira a beira-rio
coisa de caravela coisa de onda coisa de rastros na areia
coisa de beleza.
5 -
Rosto, cabelos, olhos, tua saia,
teu corpo inteiro foge do espaço
foge da memória
onde passa e passeia para sempre
Catarina
esse jeito de andar.
6 -
Não existes, não és e não estás,
não ocupas
teu lugar no espaço - e apareces
no puro movimento.
7 -
Nem estampa nem face
quem pudera afagar
a figura o fascínio
de teu vulto no espelho?
8 -
Em tuas trans
figurações
trans
figurada
para lá do tempo para lá do chão de tua passarela
pareces e apareces e desapareces
e duras e pereces - e assim
duramos, perecemos.
9 -
Quem se lembra de ti?
O ouvido não, o olfato não, e o tato
na gema dos dedos adormece:
jazes sem jamais ter vivido
no jazigo da memória da pupila - e ali
embalsamada numa noite imóvel
vives
desenho eterno e vão
desse meneio entre artelhos e ancas.
10 -
Escandia o passo - compasso
de artelho e tornozelo
às vezes calcanhares - quando
estremeciam pêssegos maçãs melões em
concha:
sobre os passos voltavas pássara
arredondando a cauda.
11 -
Assim te trago as mãos
cheias de avelãs - assim
tornas retornas pisas
uvas e avelãs.
12 -
Estudiosa Catarina estudas
sábia de teus gestos, de teu corpo e nele
aprendiz e poeta de teu vulto
celebro
passagem da beleza pelo tempo
pelo espaço de onde para sempre
se ostenta e se ausenta tua graça.
13 -
Que resta no ar do salto da pantera
senão o risco?
duras o que dura um salto - duras
a duração da rosa aquela - a duração
do coleio da serpente sobre a pedra:
só o musgo guarda o rastro do perigo.
14 -
Talvez
já nem precises de chão para teus pés
nem de espaço para teu vulto:
no vazio
do frasco de cristal algum perfume
rescende ainda - assim seriam seios e cintura
teu corpo inteiro emanação
de linhos e de sedas e veludos
melodia de blusas, saias, capas
de púrpura e de azul.
Nem te evolas nem duras.
15 -
Mestria de gazela e galgo
galga esgalga esgalgas adelgaças o regaço
da corsa na ladeira
e sobre os ombros o colo
da garça esgarça escreve
cadências de anca e seio.
16 -
Cítara de gáze gazeia seda e musselina
o nastro na garganta
quem sabe salamandra o corpo envolves
em avental de vagalumes
linhos ninhos de estrelas
onde cantam, pássara de seios,
teus rouxinóis ocultos.
17
Às vezes sob a pele dos animais da neve
a neve, o ouro, a madrepérola
da madressilva de seu umbigo:
jogam o jogo
das escondidas e
das aparições:
prestígio de prestidigitadoras
prestidigitam, oferecem, escamoteiam
agraciam negociam negaceiam
graça negaça negócio
de cintura e seio e da última flor
na relva aquela.
18 -
A lungo andare
guardaria o musgo, Musa, a música
breve do rastro longo? a graça - essa -
coral na pedra deslizante:
rumor rumo a silêncio
a sombra terá voz?
E a sombra tua,
so long! so lange!
adeus addío adiú,
Lebetwohl, farewell, sayonara,
Good night, sweet Princess,
au revoir - quem sabe?
Ciao, bambina
Catarina, ciao.