Nei Leandro
de Castro
CANÇÕES
Montou em barco de infância
feito de jornais de maio
que anunciavam preto e branco
o azul azul da manhã.
Sonho e ânsia liqüefeitos,
se foi por águas e brumas
vestindo rubras sereias
nos ombros enlarguecidos.
Em seus cabelos salgados
o sol aí fez um ninho
em que a brisa ciúme e peixe
atirava mil pedradas.
Agosto, cheio de escamas,
nasceu longe, em maralto.
O mar-tanque da infância
cresceu e enfureceu-se
como espadarte suicida.
Soprou forte o vento escuro
e despedaçou-lhe o ninho
nos cabelos sol e sal.
Em seus ombros as sereias
cantaram canções de náufragos.
Dois peixes de vidro brincam
de distantes caracóis
nos olhos frios do morto.
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