Cláudio Alex


Bom Dia, Tristeza!

I Bom dia, Tristeza! Nada se absorve ou se perde na beleza. O inverno da desesperança consentida. O silêncio do pulsar admitido. Bon jour, Tristesse! II A conspiração noturna, o advento da respiração da brisa da madrugada, um salutar reflexo de continuidade. Implorar presença que preencha a falta do tudo. Da totalidade de tudo. Sinto muito, se as manhãs são nuas, se tuas tardes são vazias e o tédio impercebido resvala nas quinas dos móveis. Se o volume da rádio-vitrola faz as paredes purgarem uma canção inesperável. III Se antes havia um tênue ressonar ao lado de minha abstinência, hoje os resquícios de presença são absorvidos pelos meus pêlos que se eriçam ao toque invisível do desespero. IV Play me a ring! Sing me a song! A song of my desperate Christmas! I'm lost... V Um inexplicável suor de nossa vadiagem. Na tarde, na manhã, na presença noturna, a atmosfera que envolve a tudo. Sinto saudades, dessas tardes. O telefone soar e tudo ser... A certeza do dia frente à obscenidade permitida. O toque do espírito na pele. O contato profundo nas partes impuras. VI Cravar os dentes na ausência de tua carne. Lamber o vazio onde estariam tuas portas. E o gosto amargo da secura da falta de teus sumos transborda em lágrimas da mais pura incerteza. VII Deita comigo o silêncio da invalidez das possibilidades. Deita comigo a fraqueza que nos levou e te conduziu para perto do cataclisma. Permanece comigo a falta de teu sussurro, do teu gemido, do ressuscitar das velhas e inesperadas paixões. VIII Bom dia, Tristeza! A porosidade da língua que guarda o sabor delicado de tua saliva. IX Impressa em mim cada emoção, cada toque, cada sensação esculpida no fundo. E as limalhas da alma permanecem espalhadas no ambiente do quarto. X Guardo comigo, numa coleção de fragmentos, a ansiedade da volta. XII Mas a desesperança decompõe meu corpo, leva minha noite... Tristeza, bom dia! Aqui fico eu, permaneço, jazente, adormecendo, aos poucos, na inexistência de tua presença.


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