Aluízio Medeiros


Canto do Século

Nunca mais ouvirei violinos em surdina nem pianos em surdina nem cantos litúrgicos suavíssimos nem músicas de sinos e de órgãos nunca mais. O espírito mecânico do século esmagou as doces melodias Nunca mais riscos de fogo de esferas vermelhas nem a cabeleira azul de Olga flutuando no espaço nem alvas gaivotas revoando nunca mais. O céu está plúmbeo o céu está plúmbeo. Nunca mais veleiros singrando serenamente os mares nem canções de águas claras nunca mais. O navio de aço levou a namorada para a distância para a bruma silenciosa da distância. Os mares estão revoltos os mares estão revoltos. O barulho do mundo sólido desabou com estrondo. Universo que desfalece que desfalece. Ai de mim! Estou esmagado estou cego. Ai de mim! Um anjo metálico com asas de hélices me arrebatará para cima das nuvens.


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