Aníbal Teófilo


A Cegonha

Em solitária, plácida cegonha, Imersa num cismar ignoto e vago, Num fim de ocaso, à beira azul de um lago, Sem tristeza, quem há que os olhos ponha? Vendo-a, Senhora, vossa mente sonha Talvez, que o conde de um palácio mago, Loura fada perversa, em tredo afago, Mudou nessa pernalta erma e tristonha. Mas eu, que em prol da Luz, do pétreo, denso Véu do Ser ou Não Ser, tento a escalada Qual morosa, tenaz, paciente lesma, Ao vê-la assim mirar-se na água, penso Ver a Dúvida Humana debruçada Sobre a angústia infinita de si mesma.


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