Beni Carvalho


Magdá (Um quadro de Tiziano)

Colo desnudo em flor, lábio entreaberto em prece, olhos, no alto, exorando o perdão de seu crime, Magdalena, a ofegar, toda em febre aparece... E o almo encanto da Vida e do Pecado exprime. Perscruta o coração, que o Amor, voraz, oprime; Sente-lhe a luta, e a dor que, dentro da alma, cresce... E, a cada pulsação que lhe o peito oprime, Os delírios sensuais, em prantos, amortece. Em fogo o olhar, tremendo a voz, a mente em brasas, Desnastrado o cabelo em ondas de veludos, Demanda o Azul, assim, nessas formosas asas... Enquanto, aos céus, contrita, a suplicar, exangue, Mostra os duros punhais dos seios pontiagudos, Ainda quentes de amor, ainda rubros de sangue!


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