Ciro Costa


Pai João

Do taquaral à sombra, em solitária furna, Para onde, com tristeza, o olhar, curioso, alongo, Sonha o negro, talvez, na solidão noturna, Com os límpidos areais das solidões do Congo... Ouve-lhe a noite a voz nostálgica e soturna, Num suspiro de amor, num murmurejo longo... E o rouco, surdo som, zumbindo na cafurna, É o urucungo a gemer na cadência do jongo... Bendito sejas tu, a quem, certo, devemos A grandeza real de tudo quanto temos! Sonha em paz! Sê feliz! E que eu fique de joelhos, Sob o fúlgido céu, a relembrar, magoado, Que os frutos do café são glóbulos vermelhos Do sangue que escorreu do negro escravizado!


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *