Cruz Filho


Sugestão de Beethoven

Noite. Ermo... Um luar de abril quase morto na bruma. Silêncio. Ar medieval de algum convento em ruína... Num piano, cujo som do jazigo te exuma, Beethoven chora e geme, em lúgubre surdina... Há um êxtase em redor. Dorme o arvoredo. Alguma Cousa indizível paira entre o alvor da neblina, E a alma da solidão, que um mistério perfuma, Enche a terra em torpor de uma angústia divina... E, à música de dor, que na bruma se espalha, Surgem alvas visões... Há um rumor de mortalha... Deslizam, sob o luar, Desdêmona e Cordélia... E, na sombra, a espreitar a ampla noite, que o pasma Passa do pobre Hanleto o dorido fantasma, A arrastar, pela cinta, o cadáver de Ofélia...


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