Dantas
Motta
A Gerardo
“Maio de 1967, noite de lua
cheia, quintal de Ayuruoca, país das Gerais saudações,
muito saudar !
Cantor de além dessas
montanhas e quintais:
abrem-se as águas
do Mar Vermelho, pisam
o chão molhado tuas
alpercatas secas, de couro e poeira
do país dos Mourões
atravessas, courudo e empoeirado
as ondas
de volta do êxodo
agora te chamas de novo
por teu nome, Gerardo - Gerardo
conversa a conversa do abismo
com Isaías, Jeremias,
Habacuc e Amós, digamos, e os outros
a noite da Mantiqueira ensinou-lhes
a língua
e falam Troias, Saléns,
Jerusaléns, Beléns e Lácios
O Inferno, o Paraiso, o
Purgatório nos quintais
de Ayuruoca e Ipueiras
chega o cheiro bom do suor
dos cavalos
os cavalos amarrados à
porta espumam no chão doméstico
se aliviam de selas, relhos,
loros e estribos
pendurados na sala
galopam agora os padres de
pedra-sabão com seus barretes judeus,
as túnicas arregaçadas
por estradas de barro e
ventos de ontem
uns na garupa, outros na
brida
Homero às ondas os
bois do mar
aboiamos, Gerardo teu aboio
aos bois das nuvens serranas.
Aboiaste o primeiro aboio
e o último aboio
que aboio aqui aos bois
da aurora e aos bois da noite
daqui ao vale de Josafá
por onde aboia também o teu aboio o Dante
na língua antiga
e nova, que aprendeste e ensinas.
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