Eduardo Guimaraens


Doçura de Estar Só...

Doçura de estar só quando a alma torce as mãos! — Oh! doçura que tu, Silêncio, unicamente sabes dar a quem sonha e sofre em ser o Ausente, ao lento perpassar destes instantes vãos! Doçura de estar só quando alguém pensa em nós! De amar e de evocar, pelo esplendor secreto e pálido de uma hora em que ao Seu lábio inquieto floresce, como um lírio estranho, a Sua voz! E os lustres de cristal! E as teclas de marfim! E os candelabros que, olvidados, se apagaram E a saudade, acordando as vozes que calaram! Doçura de estar só quando finda o festim! Doçura de estar só, calado e sem ninguém! Dolência de um murmúrio em flor que a sombra exala, sob o fulgor da noite aureolada de opala que uma urna de astros de ouro ao seio azul sustém! Doçura de estar sós Silêncio e solidão! Ó fantasma que vens do sonho e do abandono, dá-me que eu durma ao pé de ti do mesmo sono! Fecha entre as tuas mãos as minhas mãos de irmão!


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