Filgueiras Lima

      QUANDO COMEÇOU O INVERNO 
         
      Nem uma nuvem pelo céu! 

      E os olhos ansiosos do caboclo 
      lera, nas impassibilidade do infinito, 
      o terrível destino do cearense! 
      Chupou no cachimbo longamente 
      e, depois, lá se foi 
      pela estrada poeirenta, 
      assobiando qualquer coisa que dizia — Esperança. 

         
         
         
      Mas, noutra manhã, ao despertar, 
      o sertanejo escutou, 
      de sua rede de algodão, 
      a polêmica dos sapos na lagoa, 
      a cantiga da chuva nos caminhos 
      e o choro alegre dos rios nos grotões... 
      E quando, da porta de sua casa pobre 
      — para mim muito mais rica do que um templo! —, 
      ele viu a vegetação ressuscitando 
      e as árvores engalanadas de folhas verdes, 
      pôs a enxada no ombro, 
      beijou os filhinhos e a esposa 
      e seguiu para a roça, alegremente, 
      a cantar qualquer coisa que dizia — Felicidade! 
         
         
      (A terra molhada pela chuva 
      tinha o cheiro das mulheres do sertão...)