Francisco Mangabeira


Regina

Em alegrias fortes prorrompa Nervosamente meu coração, Que se celebra, com toda a pompa, Um desvairado festim pagão. Corra um delírio pelo Universo, Que nem um homem pense sequer, E ocupe o loiro sólio do Verso A Imagem Branca duma Mulher! A um riso dela, deixem os filhos Mortas nas chamas as próprias mães, E aos seus Pés tremam fracos, sem brilhos, Os astros, como se fossem cães! Lancem blasfêmias todas as bocas, Os ares sejam um escarcéu, As aves fiquem mortas ou loucas, E as nuvens todas ardam no céu! Raios e roncos de trovoadas Venham o espaço negro ferir... E, entre essas raivas desordenadas, Ela, no sólio, branca, a sorrir. Para de beijos encher o Ardente Corpo da minha Deusa Pagã, Eu quereria ser Deus clemente, E choraria não ser Satã. De almas sangrentas e cancerosas Se erija um trono descomunal, Onde ela se erga, nas Mãos Formosas Sustendo um rubro, quente punhal. Soluce o vento pelos espaços, O oceano ferva cheio de dor, E esmague peitos, crânios e braços Seu Grande Carro Triunfador. Quando Esse Carro Sombrio e Horrendo Por sobre o sangue morno passar, Cantarei sendo Satã — e sendo Deus, pelas trevas irei chorar. Depois os corpos estreitamente Unamos, deles fazendo um só. E então o Carro furiosamente Os pise, unindo-os no mesmo pó.


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