Fontoura Xavier


Flor da Decadência

Sou como o guardião dos tempos do mosteiro! Na tumular mudez dum povo que descansa, As criações do Sonho, os fetos da Esperança Repousam no meu seio o sono derradeiro. De quando em vez eu ouço os dobres do sineiro: É mais uma ilusão, um féretro que avança... Dizem-me — Deus... Jesus... outra palavra mansa Depois um som cavado — a enxada do coveiro! Minh'alma, como o monge à sombra das clausuras, Passa na solidão do pó das sepulturas A desfiar a dor no pranto da demência. — E é de cogitar insano nessas cousas, É da supuração medonha dessas lousas Que medra em nós o tédio — a flor da decadência!


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