Iranildo Sampaio


Elogio da Pressa

Lanço o meu desafio. Sou como o pássaro que fica de vigília no pomar esperando que o fruto amadureça. Hoje é dia de paz. Acomodo-me na minha rouquidão e me calo de vez. O anjo que me guarda não conhece este exílio onde apodreço sozinho. Sustento esta bengala. Lá fora, a tarde protesta contra a minha trajetória e muda de percurso. Sufoco os efeitos de minha solidão e continuo alheio aos meus propósitos. Não sei recomeçar. Melhor é ficar dentro do búzio e esperar que o silêncio reabra novamente suas velhas cortinas. Reduzo as minhas intenções a um quadro novo e esbarro no irreal. Cada instante é uma reta ligando a minha angústia ao olho do universo. Tudo me parece relativo. A vida foge ao controle de minhas decisões e me deixa perplexo. Meus caminhos são amplos. Apalpo a hora vagarosa em sua órbita em torno do incriado. Vivo o segredo dos ausentes sem teto. Estou no centro geométrico de todas as idéias e não sei o que penso. Por enquanto, apenas a verdade me aproxima do que sou e deste tema resumido.


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