João Quental


Certa Vez de Manhã Cedo

Certa vez, de manhã cedo, o verão é um inseto morto no parapeito, buscava entrar? Não havia entre ti e o mundo nada além do mundo. Ruas tranqüilas, nada pretendia acabar, mesmo as cidades eram seguras naquele tempo tão seu, mesmo os sete anos de leituras não podiam conter seu nome. Nós, não. Certa vez de manhã cedo, com as janelas abertas a vento nenhum, no sono púnhamos a dormir a palidez cristalina, tarefa inacabada, crianças diligentes e contornadas, voltando da escolha noturna, os compromissos, fome vigiada, não porque precisassem dormir, mas nunca mais voltar a sonhar. Se nossas vidas abrissem os olhos no escuro, se agora não compreendemos o que é velejar pela morte, se os muros das casas estão quentes e já consentimos, na verdade não importa. É manhã. E, desta vez pelo menos, estamos certos.

(1989)

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