Paulo Véras


Marujo

Dentro da minha casa acolho uma velhice que me acompanha desde que nasci O copo de prata de vovó com seus lábios bordados na borda Os olhos de uma tia morta a vigiar-me da moldura oval A bengala de meu avô incentivando-me o passeio na calçada A fruteira de vidro verde (com frutas de cera) a decepar-me o apetite O aparelho de jantar azul a fornecer-me a penumbra e a sopa das seis da tarde Na beira do rio tem quermesse e eu não posso ir tem bingo e leilão de peru assado tem barquinho e rolete de cana Estou vestido de marinheiro e só posso navegar no jardim


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