Raul Machado


Póstuma

Noite fechada, lúgubre, sombria. Céu escuro, tristíssimo, nevoento, Relâmpagos, trovões, água, invernia E vento e chuva, e chuva e muito vento! Abro um pouco a janela, úmida e fria; Quedo a ver e a escutar, por um momento O rugido feroz da ventania E o rasgar dos fuzis no firmamento. Quero vê-la no céu... e o céu escuro! E, sem temer que chova e o vento açoite, Abro mais a janela... abro, e murmuro: Ah! talvez acalmasse o meu tormento, — Se eu pudesse chorar, como esta noite! — Se eu pudesse gemer, corno este vento!


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