Soares Bulcão


Mater

Floreces na penumbra anônima do albergue, Sob o humilde casal de pobres infelizes, Onde mora a honradez, e a cuja sombra se ergue A árvore da desgraça onde o amor fez raízes. Ao mundo, sem que a dor teu ânimo se vergue, Surges predestinada às fundas cicatrizes, E passam sem deixar quem o teu passo enxergue, Vás, embora, onde vás, pises por onde pises. Segues a tua estrada entre flores e espinhos; Ora esbarras na treva, ora na luz, e dentre O universal rumor fere-te a voz dos ninhos; E o teu sonho é tão grande, e a missão tão profunda, Que desprezas a dor, porque trazes no ventre, — Fonte de eterna vida — a dor que em ti fecunda!


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