Victor Silva


Sacrilégio

Morreu. Brilha na alcova um círio fumarento: Nua, solto o cabelo, inteiriçada e fria, Dentro do esquife como um ídolo agourento Resplandece ao fulgor de acesa pedraria. O olhar gelado exala um fluido luarento ... Arde em rolos o incenso; estruge a ventania; É noite; a neve cai... e um triste encantamento Circula na mudez da câmara sombria. Chego, mudo, a tremer, do seu féretro junto, Desvaira-me o esplendor dessa carne querida, Seduz-me a tentação do seu corpo defunto... E o mesmo ardente anelo, o mesmo ideal transporte, Toda a louca paixão com que eu a amei na vida Sinto-a com o mesmo ardor na volúpia da morte...


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