P R O J E T O   E D I T O R I A L   B A N D A   L U S Ó F O N A

 

 

J O R N A L   D E   P O E S I A   |   F O R T A L E Z A l C E A R Á l B R A S I L
COORDENAÇÃO EDITORIAL   |   SOARES FEITOSA | FLORIANO MARTINS
2000-2010
 

 

 

 

BANDA LUSÓFONA | PORTUGAL

Fernando Aguiar | (1956)

O poeta contemporâneo

 

Fernando Aguiar

 

1.

 

Ao tomarmos consciência dos recursos do presente, estamos a perspectivar a arte do futuro.

A poesia, como arte literária, tem inevitavelmente que acompanhar e corresponder às possibilidades que a tecnologia põe à sua disposição.

O espírito da descoberta e da pesquisa estética inerente à actividade criativa, faz com que a produção poética recorra a estes meios para criar novos poemas e para elaborar obras com um carácter mais inovador, mais actuante, mas igualmente poético.

Por isso é natural que nos próximos tempos se verifique uma aproximação cada vez maior aos meios tecnológicos, sobretudo com as crescentes potencialidades dos computadores no tratamento da escrita, da imagem e do som.

Embora não nos apercebamos, os diversos sentidos têm adquirido uma capacidade crescente de se adaptarem à simultaneidade, em interacção com o cérebro. Terá sido sempre assim, mas pelo os códigos visuais e sonoros têm-se multiplicado, obrigando os sentidos a decifrarem mais rapidamente e em conjunto as mensagens recebidas, inter-relacionando-as.

O desenvolvimento científico encaminha a sociedade e a consequente produção artística nesse sentido, e não deixa grande espaço para uma inversão de marcha.

A capacidade de um entendimento integrado acrescido pela criatividade, dá à poesia os argumentos para o uso das tecnologias na realização do poema.

A poesia só se poderá considerar uma forma de arte enquanto se encontrar no domínio da informação, isto é, enquanto contribuir com algo de novo na produção do poema. E os meios tecnológicos são um importante campo de exploração na procura de novas linguagens poéticas. E poesia é, definitivamente, uma palavra visual.

Apesar dos suportes referidos no capítulo anterior, alguns dos quais já se utilizam há vários anos na criação poética como a fotografia, a electrografian ou o video, sognos, espaços, sons, movimento, volume, estrutura, cor e, obviamente, letras e palavras, fazem parte dos recursos e do vocabulário semiológico e fonético do poeta actual.

Embora possa parecer um exagero, pelo menos neste aspecto os poetas visuais são como Deus: escrevem direito por linhas tortas. E esse poder é-lhes conferido pela produção dos seus poemas mediante técnicas e suportes diversificados.

 

2.

 

Mas estes avanços e descobertas vão manter a voz, ainda que tratada e trabalhada, como factor de dicção e de transmissão sonora do poema, assim como o próprio poeta que, com a sua presença, tornará mais expressiva e estimulante a criação do acto poético ou a interpretação do poema.

Este é também um aspecto em que o poeta pode acrescentar algo de novo a uma arte milenar que é a poesia, e à tradição da sua transmissão oral praticada pelo próprio através da sua capacidade expressiva e comunicativa.

Existe ainda uma questão curiosa em relação à intervenção ou performance poética. Se é possivél considerar-se que uma obra de arte ou literária só é experimental enquanto está em fase de criação, a performance poética é efectivamente o poema experimental no seu estado mais puro. E isto porque simplesmente não existe como obra acabada no sentido objectual do termo (apenas no aspecto temporal), esgotando-se no processo criativo.

Apesar de uma intervenção poética ser pensada e estruturada, existe sempre um certo grau de imprevisibilidade. O poema vai-se desenrolando perante o leitor que está a assistir em tempo real à sua criação (relegando a leitura da poesia literária ou de um poema visual para um acto meramente virtual ?), e quando a intervenção acaba, o processo criativo do poema termina ficando apenas na memória de quem o viu.

Mesmo que a performance seja registada em video ou fotografado resulta simplesmete na fotografia de um poema, enquanto que o video de uma performance é apenas o registo videográfico de uma acção, necessáriamente redutor, e não a intervenção em si.

Assim, se o poema experimental só existe verdadeiramente enquanto processo, isso acontece exclusivamente com o acto poético. Porque só a performance permite o imponderável no poema.

Estes avanços e descobertas vão manter a voz, ainda que tratada e trabalhada, como factor de dicção e de transmissão sonora do poema, assim como o próprio poeta que, com a sua presença, tornará mais expressivo e estimulante a criação do acto poético ou a interpretação do poema.

Apesar dos suportes já referidos, alguns dos quais já se utilizam há vários anos na criação poética como a fotografia, a electrografia ou o video, signos, espaços, sons, movimento, volume, estrutura, cor e, obviamente, letras e palavras, fazem parte dos recursos e do vocabulário semiológico e fonético actual.

Embora possa parecer um exagero, pelo menos neste aspecto os poetas visuais são como Deus: escrevem direito por linhas tortas. E esse poder é-lhes conferido pela produção dos seus poemas mediante técnicas e suportes diversificados.

 

 

Poesia & Interação

 

Uma das características da arte actual é o seu poder de interacção, é a sua capacidade de relacionar os diferentes géneros artísticos e diferentes “média”, para permitir uma percepção mais criativa por parte do fruidor.

Mais do que caracterizar ou definir, importa associar, interligar, ultrapassar barreiras, destruir catalogações e compartimentos onde, normalmente, a arte é colocada.

Pintura, escultura, dança, música, poesia, teatro, mímica e video, deixaram de ser apenas áreas de especialização para contribuírem com algumas das suas especificidades para a produção de uma arte heterogénea, viva, actual e com um elevado poder de comunicação.

A poesia é um bom exemplo: os numerosos suportes através dos quais esta é hoje realizada, retiraram-na há muito das rígidas estruturas gramaticais e dos contornos da bidimensionalidade, sempre limitativos, para ganhar uma estrutura e uma forma diferente, por vezes tridimensional e com movimento.

É o caso do poema-objecto, da instalação poética, de electropoesia (poesia criada através da fotocopiadora), da poesia de computador, da video-poesia, da holopoesia (poesia escrita com raios laser) e sobretudo, da intervenção do próprio poeta em tempo real.

É com a performance ou acção poética que o conceito de interacção melhor se realiza, pela dinâmica criada pelo poeta/performer em relação a todos os objectos, conceitos e veículos expressivos utilizados.

O rápido desenvolvimento da tecnologia e a possibilidade de explorar essas potencialidades, permite ao poeta (e para além do livro) exprimir-se de uma forma mais completa e também mais complexa, provocando a necessidade de usar de uma forma mais aprofundada e quase sempre sincronizada os diversos sentidos, para uma melhor elaboração e percepção do acto poético.

Esta atitude veio não só alterar a ideia tradicional de poesia, como o próprio termo “poesia visual” deixou de estar adequado a determinadas realidades poéticas, já que “poesia visual” está ainda demasiado conotada com uma poesia essencialmente bidimensional, apesar de todos os jogos espaciais das letras e das palavras, e da utilização das imagens.

Neste momento, a poesia é mais informacional no sentido do seu tratamento pela informática, é mais cibernética no sentido do envolvimento da máquina como suporte da mensagem, é mais integracional por integrar em si o uso de materiais, técnicas diversificadas e um manancial de conhecimentos entretanto adquiridos, é mais relacional atendendo ao inter-relacionamento dos canais sensoriais, e é mais interactiva por interaccionar esteticamente todos estes aspectos.

Interactiva porque todos os componentes do poema são o resultado de uma (inter)acção conjunta entre si. Interactiva porque o poema age pela reacção dos diferentes factores inerentes ao acto poético. Poesia interactiva pela actuação interagente dos aspectos estéticos e informativos. Interligados. Interassociados. Interpenetrados. Intertextuais.

Esta poesia interactiva não se poderá considerar tanto como uma poesia de ruptura, mas representa o resultado da prática e da evolução real de uma determinada área poética com características mais experimentalistas.

Nos últimos trinta anos houve uma evolução visível na poesia e na(s) forma(s) desta ser veiculada. E sobretudo no último decénio, a poesia avançou para algo que é mais do que a simples valorização do aspecto visual do poema. Evoluiu para uma interacção activa e criativa dos sentidos através dos meios que os poetas têm utilizado.

Por todas estas razões, a poesia interactiva é um dos caminhos a seguir como processo de investigação poética e como forma de potencializar criativamente a palavra.

 

 

O Projeto Editorial Banda Lusófona foi criado em janeiro de 2010, como complemento ao Projeto Editorial Banda Hispânica. Assim o Jornal de Poesia integra em sua plenitude a poesia de línguas portuguesa e espanhola. Aqui registraremos criação e reflexão, reunindo autores de distintas gerações e tendências, inclusive inéditos em termos de mercado editorial impresso. Aqueles poetas que desejem participar devem remeter à coordenação geral seus dados bibliográficos, seleção de 10 poemas e resposta ao seguinte questionário:

     1. Quais são as tuas afinidades estéticas com outros poetas de língua portuguesa?
    2. Quais são as contribuições essenciais que existem na poesia que se faz em teu país que deveriam ter repercussão ou reconhecimento internacional?
     3. O que impede uma existência de relações mais estreitas entre os diversos países de língua portuguesa?

Todo este material deve ser encaminhado em um único arquivo em formato word, para o seguinte e-mail: agulha.floriano@gmail.com. Agradecemos também o envio de uma fotografia (jpg), assim como de textos críticos, livros de poesia e material jornalístico sobre o mesmo tema. O Projeto Editorial Banda Lusófona é uma fonte de informações que reflete, sobretudo, a ampla generosidade de todos aqueles que dele participam. O acesso a cada país deve ser feito através do selo correspondente.

 
JORNAL DE POESIA ACERVO GERAL BANDA LUSÓFONA EDIÇÕES CURURU

 

Jornal de Poesia (Brasil)

 

La Otra (México)

 

Matérika (Costa Rica)

 

Blanco Móvil (México)

 

Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências (Portugal, Brasil)

 

Agulha - Revista de Cultura (Brasil)

 

 
Ficha Técnica

Projeto Editorial Banda Lusófona
Janeiro de 2010 | Fortaleza, Ceará - Brasil
Coordenação geral & concepção gráfica: Floriano Martins.
Direção geral do Jornal de Poesia: Soares Feitosa.
Projetos associados: Revista La Otra (México) | Ediciones Andrómeda (Costa Rica) | Revista Blanco Móvil (México) | Triplov (Portugal).
Cumplicidade expressa: Alfonso Peña, Eduardo Mosches, Gladys Mendía, José Ángel Leyva, Maria Estela Guedes, Soares Feitosa e Socorro Nunes.
Contatos:
Floriano Martins bandahispanica@gmail.com | floriano.agulha@gmail.com.
Soares Feitosa: soaresfeitosa@secrel.com.br | soaresfeitosa@uol.com.br.
Agradecemos a todos pela presença diversa e ampla difusão.