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BANDA LUSÓFONA | BRASIL

Sabino Romariz | (1873-1913)

Sabino Romariz, o poeta de Penedo

Lêdo Ivo

Alagoas, cemitério de poetas! De uma produção lírica de vários séculos, e que tem como referência inaugural o Convento de São Francisco em Penedo, um dos pontos irradiadores da cultura alagoana, o passado nada guarda.

Esse olvido não atinge apenas os poetas que se grudaram ao chão provinciano e recusaram o apelo dos navios e aviões. Alcança também nomes como os de Guimarães Passos e Goulart de Andrade, que pertenceram à Academia Brasileira de Letras, o primeiro na condição de fundador. No desfile de mortos, só Jorge de Lima ostenta a glória póstuma, após a consagração que lhe rodeou a vida e a obra. E nesse reconhecimento freme a contundente advertência do tempo aos que lhe fecharam as portas da Academia Brasileira de Letras – essas portas ora de rígido bronze, ora de açúcar fofo.

Do cemitério de silêncios e ilusões se levanta agora o poeta penedense Sabino Romariz, numa antologia singela. Dele ficou apenas, em recitais e almanaques, o soneto “O lírio”, de nítido e doído cunho simbolista, o que induziu seus admiradores a estranharem que Andrade Muricy não o houvesse acolhido no monumental Panorama do movimento simbolista brasileiro.

Realmente, o soneto primoroso e emblemático merecia o abrigo antológico. Contudo, a avaliação inicial dessa obra esquecida e dispersa, ora ressuscitada pela Fundação Casa do Penedo, mostrará que Sabino Romariz não foi um poeta de escola, senão de escolas. São várias as tendências e vertentes que confluem e até se chocam em seus livros de versos – desde o Romantismo, identificável nas licenças métricas e gramaticais, até o Parnasianismo e o Simbolismo, este presente tanto no glossário evasivo e evanescente como nos tropos e imagens que sustentam a sua dicção.

Todavia, o que marcou compulsivamente a trajetória poética de Sabino Romariz foi o turbilhão retórico de Guerra Junqueiro. As suas longas composições de teor dramático, juncadas de brados e invectivas, ostentam o selo parodístico e nos remetem ao grande e tumultuoso poeta de Os simples. São junqueirianos os seus indignados arroubos líricos, o amor pelos pobres e humildes e até o ódio à Inglaterra. E como Guerra Junqueiro foi buscar em seu mestre Victor Hugo as antíteses e apóstrofes trovejantes, nada mais natural que as imprecações e imagens trombeteantes de Sabino Romariz sejam de acentuado feitio hugoano – o que o leva, inclusive, a transformar o meu antepassado Pedro Ivo numa metáfora, chamando-lhe “férvida cratera”.

Mas, ao lado de tantas vociferações e amarguras, surge, como uma clareira luminosa, o verso plácido do poeta que, mesmo quando distante de sua cidade natal, ouvia o fluir das águas do Rio São Francisco e os sinos das igrejas de Penedo.

O lírio

O lírio era uma flor imaculada,

Casta como um sorriso de Maria;

Flor de uma alvura tal que parecia

Ter sido feita de hóstia consagrada.

Em Getsemâni, a face ensanguentada,

Jesus tragava o cálix da agonia

E uma gota de sangue luzidia

Sobre um lírio caiu cristalizada.

E nisto a flor, sem mancha concebida,

Foi-se tornando como que dorida

Tomando aquele tom violáceo, frouxo…

E de como era outrora alvinitente

O lírio da Judeia, finalmente

Crepuscular ficou, tornou-se roxo.

[Do livro O Ajudante de Mentiroso | © Lêdo Ivo, 2009 | Publicado pela Educam, Editora Universitária Candido Mendes | Reproduzido com autorização do Autor.]

 

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Todo este material deve ser encaminhado em um único arquivo em formato word, para o seguinte e-mail: agulha.floriano@gmail.com. Agradecemos também o envio de uma fotografia (jpg), assim como de textos críticos, livros de poesia e material jornalístico sobre o mesmo tema. O Projeto Editorial Banda Lusófona é uma fonte de informações que reflete, sobretudo, a ampla generosidade de todos aqueles que dele participam. O acesso a cada país deve ser feito através do selo correspondente.

 
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