Eduardo Alves




Cidade Amarga da Alma

Esta cidade, minha alma solidificada, erguida, cimentada de esperança, alicerçada de teimosia! Alma em cada parede construída e demolida sem critério, modernizada sem identidade, perdendo-se em ser alma, em ser nada ao fim de tudo. Estas ruas, minha alma seu piso, seu chão, e em cada lugar vazio, a mesma alma sendo silêncio. Função de ser tudo o que se habite aqui, esses quarteirões e favelas do meu peito, em todas as cores e dores, minha alma. A festa da matriz, menino correndo no tempo, fogueira de São João, e minha alma respondendo. Transbordando do rio, o chumbo nas pedras da rua, bagaço da cana-de-açúcar, minha alma absorvendo. O tempo passando sobre tudo, e a perda de nossas verdades esturricadas sob o sol áspero, divino amargor, Santo Amaro. O santificado do nome precede o desfecho que trava mas nem o poder do santo aplaca as dores dessa minha alma, cidade doendo no corpo do mundo.


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