"Nisto, a Arte, meu caro senhor monge Jorge! Porque s� a Arte tem o leg�timo poder de transformar o puro em imundo; o imundo em sagrado. Onde se lia o Mal, leia-se o Bem!"
Um instante s� de minha distra��o, e Al�dio, o comerciante, dizendo-se cliente do Coronel, contou a hist�ria do pr�prio pai, um matuto muito trabalhador, valente e cheio de mulheres, l� das brenhas dos sertanejos, perto de Arapiraca. Contou que s� de mulheres com o nome de Vera, o pai montara casa para tr�s, novas e bonitas, mas havia outras, com outros nomes, uma infinidade de Marias, Ant�nias e Franciscas. Um dia, ele desconfiou que uma daquelas Veras o tra�a. Fez que ia de viagem e foi, mas voltou antes do fim do caminho, a ponto de chegar no romper da barra. Buzinou e focou a luz da camionete bem em cima da casa. S� deu tempo ver, bem ligeira, a janela do oit�o lateral abrir-se como se fosse uma lufada de vento ao contr�rio, e, no seu rastro, a pernada do cabra. Um corisco teria sido mais lerdo, fugindo, seminu, para o matagal, o cabra. Dois tiros r�pidos, do pai, mas n�o acertou nenhum. Ent�o, s�bito, na seq��ncia da pernada, surgiu, na janela, um rosto na dire��o do cabra, fugindo. E voltou-se, em rosto, bem na dire��o aos tiros... �Meu filho — assim me disse meu pai —, era um olhar t�o doce e gentil, que, imediato, lancei-lhe a desist�ncia. Sim, acho que ela me viu. Era contra os far�is do carro, mas era a favor da luz do Sol, que acabara de nascer. Viu, sim! Ela me viu! A Vera, de remorsos, olhando s� para mim! O problema, meu filho, e por favor repare nos seus irm�os pequenos, � que o terceiro tiro j� havia sido disparado. Bem no meio da testa — e se benzeu —, l� nela�. O comerciante prosseguiu, baseado no que lhe dissera o pai: — Ela, ali, pelo lado de dentro da casa, ciscando como uma galinha quando a gente lhe puxa o pesco�o. As crian�as acordando e chamando pelo nome dele, pai, a Verinha e o Francisco; e pelo dela, m�e, o nome. J� est�o crescidinhos, sabem ler e escrever, mas n�o esquecem. Dizem que n�o perdoam, mas o pai faz de tudo pelos pequenos. Eu tamb�m fa�o, s�o meus irm�os, s� de pai � certo, mas s�o. — ? — Contei essa hist�ria ao Coronel quando fui-lhe pagar uns honor�rios de outra quest�o e lhe levei de agrado um pacote de castanhas torradas. Ele abriu um u�sque e tomou tr�s c�lices, sorvendo-os, na ponta da l�ngua, sem gelo, sem nada, como quem toma chegada de um vinho raro. — ? — N�o, nunca vi ningu�m beber daquele jeito! N�o era emborcando o copo de goela abaixo. Era assim, de leve, na ponta da l�ngua, debicando com muito cuidado, mas rapidamente tomou tr�s c�lices e comeu meio prato de castanhas torradas na manteiga, com sal. Nunca vi ningu�m beber u�sque em c�lice. Ele insistiu comigo, mas eu n�o estava bem da gastrite. — ? — Agora, essa hist�ria de que a finada se virara para meu pai justamente para levar o tiro bem no meio da testa, l� nela, e que os olhares se haviam cruzado, isto quem inventou foi ele, o senhor Coronel. — ? — Sim, ele mesmo, o Coronel! A hist�ria que eu havia contado era bem simples. Meu pai havia errado os tiros no cabra, mas acertou um na testa de Vera. Mas assim que terminei de contar, ali�s, � medida que eu ia contando, ele botava esses enfeites de que ela olhara primeiro para o cabra, depois na dire��o de onde vinham os tiros. Tamb�m o lance da aurora, das luzes se cruzando, da camionete e do Sol, ele que inventou. Confesso que fiquei muito emocionado, sobretudo com isto de o senhor Coronel dizer que meu pai a perdoara. Acho dif�cil, meu pai � um homem brabo, do sert�o. — ? — Mas, pensando melhor, talvez o senhor Coronel esteja certo. Meu pai n�o pode falar no nome dela que j� come�a a tossir. E, com pouco fica vermelho. Sei n�o, talvez ele, naquela hora, fosse perdoando com uma m�o e atirando com a outra... — ? — Perdoou, sim, tanto que n�o mandou matar o cabra, o que � de lei, l�, dando-lhe tempo para fugir para um seringal do Acre. Depois, meu pai disse a um parente do cabra que ele podia voltar, como de fato voltou, e ambos rezam, sem se cumprimentar, � claro, no t�mulo da finada, mas quem chega por �ltimo espera que outro termine. — ? — Depois de comer as castanhas, ali�s, comendo-as e falando, o Coronel me garantiu que o homem valente � aquele que anda desarmado. Pediu meu rev�lver. Eu entreguei. Ele disse que daria fim nele... acredito que tenha dado. —? — Ele mandou um abra�o para o meu pai. Mandou a senhorita estagi�ria comprar dois presentes para as crian�as, os filhos da finada, meus irm�os de pai. —? — Sim, ele me deu um presente: um cron�metro de piscinas que eu nem sabia como funciona, mas ele ensinou. —? — Ele me disse: �Al�dio, em qualquer afli��o, acuda-se deste cron�metro. Marque o tempo que quiser e repare no ponteiro correndo em dire��o do eterno. Que pode ser morte, que pode ser vida, que a diferen�a � nenhuma. Quem dir� o lado vencedor ser� sua m�o, sua m�e... Assim, �!� E botou a m�o em p�, como quem mede a altura de porco, virando-a para direita e para a esquerda, l� e c�, � fortuna. S� ent�o me dei conta de quanto � fr�gil o pender da morte, da sorte. — ? — Sim, eu ando com o meu. Na sa�da passei na loja em frente ao escrit�rio do Coronel, e comprei um cron�metro de piscinas igualzinho para meu pai — disse o comerciante, Al�dio. Ah, meu caro leitor e minha distinta leitora, como se n�o pudesse existir hist�ria mais confusa do que esta, o comerciante engasgou-se com a pr�pria fala. A m�e do Coronel socorreu-lhe um c�lice do vinho das paridas. Ele retemperou-se e chispou na mesma carreira em que havia chegado. Acho que o cabra que saltou a janela da cama de dona Vera — que Deus a tenha! — ficara menos aflito, ainda que correndo das balas no garranchal do sert�o, do que Al�dio, o comerciante. O fato inconteste, ali, na frente de todo mundo, � que a hist�ria do pai de Al�dio, o comerciante, fora remendada pelo Coronel. O monge reclamou: — Senhor Coronel, esse comerciante contou a vergonhosa hist�ria de um triste assassinato. Com que direito o senhor lhe enfeitou a vers�o, inventando esse lance da troca de olhares? Perd�o!? Quem j� viu assassino perdoar ningu�m?! Antes que o Coronel respondesse, algu�m falou que fora com esses ornatos que ele ganhara a quest�o do pai do comerciante e, evidente, novos pagamentos, novas castanhas e outros u�sques a debicar no c�lice. Sim, eu concordo que a hist�ria seca seria algo bruto, mas, com o lance do tr�gico, da for�a imposs�vel de atender, mais o lance do perd�o — e algum dinheiro do comerciante, � claro —, fora assim que o Coronel lhe soltara o pai. N�o! N�o deu para identificar de quem, mas em meio a essas divaga��es, uma voz, que at� desconfio que tenha sido o pr�prio monge, de ventr�loquo. N�o ser� surpresa se tiver sido ele. Ou, quem sabe, tenha sido do Profeta a voz que nos pegou a todos de surpresa: �Nisto a Arte, meu caro senhor monge Jorge! Porque s� a Arte tem o leg�timo poder de transformar o puro em imundo; o imundo em sagrado. Onde se lia o Mal, leia-se o Bem!� E, numa compuls�o terr�vel, desta vez reconhecido, assim falou o senhor Capit�o: — S� a ARTE, meu caro Bibliotec�rio Djalma! S� a ARTE! Eu disse que sim, ali�s, nada disse, apenas meneei com a cabe�a, e, l� longe, o vulto do comerciante pelas costas.
Este, o 4� cap�tulo de Po�tica, um livro vivo, aberto, gratuito, participado e participativo, cheio de coment�rios que, a rigor — esta, a proposta —, os coment�rios, mais importantes que o texto comentado: abrir o debate, uma multivis�o. — Livro vivo, como assim?
— Por que em permanente movimento, espa�o aberto a quem chegar, t�o amplo como o
espa�o �queles que aqui est�o desde os s�culos, todos em absoluta ordem
alfab�tica. Seja bem-vindo! PO�TICA: Capa e pref�cio - veja como �.
ADRIANO ESP�NOLA: Comecei e n�o parei mais. A narrativa pega. Mas n�o � linear, requer releitura; uma est�ria como se fosse contada por v�rias pessoas, com v�rias vers�es. In�cio de um romance? Estou na fila para compr�-lo/l�-lo. Se voc� me mandou um bode, digo-lhe que voc� � um cabra bom da peste. Sua escritura tem essa caracter�stica: pega o leitor, ati�a-lhe a curiosidade; � arte que transforma o leitor e a realidade. ALEXANDRE FORTE: O poeta, como o soberano antigo, tem dois corpos. Um � mortal, sujeito �s conting�ncias humanas; o outro, imoral, para al�m de toda decrepitude do bem e do mal. O corpo mortal do poeta est� sujeito aos v�cios e virtudes, pass�vel de cometer e ser v�tima do mal e do bem. O corpo imortal do poeta, porque imoral e irrespons�vel, s� conhece da trag�dia humana: bem e mal imbricados como dois amantes. O poeta de “Mein Kampf” n�o pode ser responsabilizado pelos atos do corpo mortal do F�hrer; nem o poeta da Terra Prometida pode ser responsabilizado pelos saques e atentados ao povo eg�pcio. Somente despidos da t�nica de poetas e, por conseguinte, de profetas, podem ser responsabilizados. No princ�pio, o poeta, o profeta e o soberano encarnavam o verbo divino. Os atos do of�cio divino s�o irrespons�veis, porque emanados de uma fonte supra-humana. N�o por acaso, Plat�o excluiu os poetas da utopia republicana. Aceitar o poeta como estadista seria introduzir a trag�dia na Hist�ria, excluindo por completo qualquer tentativa racional de distinguir o bem do mal. N�o que os poetas sejam incapazes de valorar. Ningu�m mais capacitado para dizer o bem do mal e vice-versa. A verdade pura jorra da boca dos poetas. Aos demais mortais resta apenas a relatividade dos conceitos, os limites sensoriais do corpo. O poeta no desfrute da imoralidade � um feiticeiro de alta grandeza. Para al�m e aqu�m da sensorialidade, o poeta se faz desbravador do mundo, do universo. O corpo mortal do poeta, no entanto, n�o resiste a muito experimentalismo. Ao primeiro choque com os limites tetradimensionais se espeda�a. Mas, o poeta n�o pode ser culpado. Goethe n�o induziu ningu�m ao suic�dio com Werther. Como poeta, est� tocado pelo sagrado. E santos os que pereceram. A perdi��o do poeta � colocar o corpo imoral a servi�o do corpo mortal: os grandes crimes que o digam. O corpo mortal deve estar a servi�o do corpo imoral, imortal, reunindo no compasso c�smico – vide Soares Feitosa – as musas regentes da epopeia humana. Somente o poeta que coloca o corpo perec�vel a servi�o daquel’outro tem autoridade para dizer: “O bem � o mal — vestido de bem; e vice-versa”. Afinal, o que � o sumo bem diante da pequenez humana? A �nica salva��o do poeta � a epopeia. A trag�dia humana � a argamassa que re�ne justos e injustos. Por isso: — A Arte, s� a Arte! Mas que coisa � a Arte, n�o? O senhor vai l�, amontoa umas palavrinhas – aquelas mesmo que, t�o comportadinhas na fila do dicion�rio, nem d�o piado – e transforma tudo num rio revolto, aluvi�o, remoinho, belezura... Tudo t�o bonito, tch�! A� est� o que chamo de Arte: aquele estranhamento que agudiza nossa percep��o do real. Agora quero mais… Tua obra � uma arte. “Nisto, a arte, meu caro senhor monge Jorge! Porque s� a Arte tem o leg�timo...” Poder da verdade enredada em cantos que o Feitor faz e nela cremos. E l� fui eu crendo na primeira narrativa e quando vi Al�dio me aludia a Vera de remorsos, olhando o Pai. Ah, ele me paga, viu, Coronel Feitor? E vais tecendo a hist�ria como tear de mentiras, que � o que faz um verdadeiro/bom escritor (e vai saber se das mentiras, algumas verdades?) e quando vemos, levamos uma bela rasteira num “bordado madrigal”. Te ler � ler poesia em forma de conto! E te aplaudo, te beijo e me benzo, porque n�o � sempre que Djalma, o bibliotec�rio, entra em cena e se contenta com as interroga��es. Ou ser�, vi demais? O que far� ele com o que viu, ouviu, presenciou e participou (magistralmente bem agarrado sem direito a dizer sim ou n�o: tascado l� feito testemunha de Salo que vem pra frente, intuo eu), s� o pr�prio Salo sabe. Eu aguardo. E guardo os momentos que vi a vida sendo feita. Ah, Feitor, o que me fazes?! Hoje segue um peda�o de meu cora��o pra ti. Isso sem contar que dependendo de quem conta uma hist�ria, ela pode levar um tipo de recado. E a mem�ria da humanidade anda suja � be�a. Apesar dele ter dado o tiro em Vera na cara (exata) dura, eu prefiro imaginar que as luzes que se cruzaram s�o as culpadas dos dois (in)distintos cavalheiros trocarem a gentileza de se revezarem diante do t�mulo da Vera de muitos, casada com o Pai das tr�s Veras e tantas, uma infinidade: Marias, Ant�nias e Franciscas. ANTONIO C�CERO: Caro Soares Feitosa, obrigado pelo conto, que � muito bonito e misterioso. Boas festas e um feliz ano novo! Antonio Cicero Gostei muito da multiplica��o de vozes no relato do Al�dio, que reconta ao leitor a hist�ria contada pelo pai, a mesma hist�ria antes recontada, pelo filho, ao Coronel, que teria introduzido alguns acr�scimos, e por a� vai. Gostei muito do contraste entre a rudeza dos eventos e a delicadeza do palavreado sutil (Entendi bem?). Se entendi, acho que de confusa a hist�ria n�o tem nada, � at� muito simples. A t�cnica do relato � que � elaborad�ssima; como toda boa literatura, n�o � para leitor qualquer. Ta� o que o texto tem (a meu ver) de melhor: induz o leitor a se julgar mais perspicaz do que �. Em suma: beleza pura, o prazer da escrita e o prazer da decifra��o da escrita.
No tom dos “bons e velhos” causos do sert�o, sua narrativa � instigante/intrigante, prendendo o leitor ao desejo da leitura e ao desvendamento do epis�dio que se passa com o comerciante. Tra�os de lirismo acompanham o fluxo da narrativa. A transforma��o de uma est�ria popular pela voz do narrador/cl�ssico em arte ficcional � fabulosa. As interroga��es durante o di�logo me chamaram bastante a aten��o. Acredito que este recurso deu um efeito de imagem muito representativo para a narrativa (chego a visualizar uma das personagens do di�logo apenas com o ar de interroga��o e movimento a cabe�a). Bem, desculpe pelas bobagens que acabo de dizer, pelo menos tento ser sincero quando escrevo sobre algum trabalho liter�rio. E quando n�o gosto, sil�ncio. Estas s�o apenas impress�es de leitura de um jovem poeta e entusiasmado pesquisador da literatura nacional.
Grata surpresa numa data especial! Retribuo com todo este calor que toda prosa e poesia possam revelar. � muito bom escrever s� para desfrutar de espa�os com pessoas como voc�. Seu texto? Magn�fico, criatividade a toda prova de BALA! � para quem SABE escrever e para SORTE dos que o leem. Um grande e fraterno abra�o. Cliv�nia
Don Francisco: Faz tempo que quero conversar com voc�! E n�o encontramos tempo. Passei uns 5 dias a viajar. Enquanto isso, fui lendo umas coisas que me faziam pensar em voc� o tempo todo. Agora, abro o meu correio e, em meio � pletora de mensagens acumuladas nesses dias de jejum cibern�tico, encontro esse monumento de narrativa: a hist�ria de vida � volta de um cron�metro de piscina! Ora veja: que faz esse muiraquit� num sert�o sem �gua e muito menos piscina? Mas o que me toca � o modo pr�prio de dizer, algo que, mesmo se n�o houvesse narrativa, confusa ou de simplicidade banal, este algo nos transportaria ao universo transfigurado por essa est�tica do inesperado, com seu perd�o a posteriori. � a fala que � arte aqui, � ela que tem a for�a de transmudar o mal em bem, o hediondo em hierofante e assim por diante. Eis por que o Bode preto � belo e sereno!
EDSON ALVES DAMASCENO: Poeta, o verdadeiro homem � o desarmado! Sua arma � a palavra. A bala do terceiro tiro foi mais r�pida que o arrependimento. O pai do comerciante ao alinhar o olhar com o de Vera... Veio o perd�o, mas a bala foi muito mais r�pida. Poeta, o texto est� estupendo, incr�vel e lindo, compar�vel aos demais escritos do grande poeta Soares Feitosa. Que bichinho arretado esse seu bode. Achei um tanto dif�cil de entender no in�cio, mas depois, como sempre, amei. Fiz uma entrevista recentemente com o cineasta Ugo Giorgetti, que entre outras coisas boas filmou “Boleiros”, um filme sobre velhos jogadores de futebol. Ele est� terminando um document�rio sobre uma usina falida no interior de S�o Paulo, da fam�lia Morganti. O document�rio, na verdade, � sobre a capela, que foi pintada pelo Volpi. A ind�stria est� em ru�nas, a arte na capela sobrevive. Comentei com ele sua m�xima – s� a arte fica – e ele disse que voc� certamente gostaria de ver esse document�rio. Eu tamb�m acho. Eu acho, como j� te disse, que a arte salva, sempre. EMERSON DAMASCENO: Espasmos. � essa a conclus�o a que chego em meio �s divaga��es noturnas do �ltimo dia do ano. As reminisc�ncias do passado me provam de forma insofism�vel que somos pequenos �timos de luz na hist�ria. Percebo que um punhado de anos s�o somente dias atr�s. Fatos acontecidos h� algumas d�cadas parecem-me semanas apenas. Tudo t�o v�vido e pr�ximo. Imerso nessas reminisc�ncias nost�lgicas. Vidas que transcorrem em alguns meses. Fr�gil tempo, o que dizer-lhe colosso? E nessa ode ao passado morto, t�o vivo, eu pensava nesse diletantismo not�vago, o que dizer sobre o tempo. Eis que recordo da �mpar poesia de Soares Feitosa, mentor do instigante “Jornal de Poesia” amigo e poeta. Um cron�metro para piscinas, onde percebo que a arte liberta! Talvez mais do que o desabrochar dos grilh�es que nos solapam os devaneios. A arte materializa o encontro que n�o tive, os caminhos que n�o percorri, este beijo que eu n�o te dei. Nesse ambiente cujo ilogismo � concreto, o tempo se arrasta sofregamente. Um cron�metro para nossas vidas, o tempo nem sempre rege a raz�o no que a arte n�o lhe permite. A arte n�o cria, apenas materializa ao agregar letras, a dor lancinante do poeta. E dor � tamb�m o prazer infinito, como diria Schopenhauer. E percebo que quando o Poeta Feitosa estava a agrupar as letras que deram causa a “Um cron�metro para piscinas”, no alfarr�bio de sua escrivaninha, trazia consigo um sorriso nos l�bios, murmurando � cumplicidade alguns arremedos que lhe ditava o Coronel, que balan�ava-se sentado na cadeira de balan�o ao seu lado. E quando lhe faltavam palavras era ajudado pelos seus c�mplices de poesia. E vejo que o Poeta fazia do imagin�rio esse mundo maravilhoso que s� a arte liberta. Assim vivemos no S�culo Cem de �squilo. E agora enquanto digito estes �ltimos suspiros de palavra, o Coronel me chega e brada, a�oitado com a par�frase – eu ousaria chamar licen�a po�tica – desautorizada, um pl�gio esdr�xulo dum fato que nunca se deu, mas antes que puxe o gatilho da Lugger que sacara da bainha dos algozes da cultura, ele sorri com os l�bios cerrados e me diz: “�, doutor, s� mesmo a Arte, s� ela...”. Feitosa, car�ssimo, gostei do conto e do bode. E acho que a gentileza do convite ainda render� um poema, que vai principiar mais ou menos assim: “Quando vens ao Cear�? Tens um amigo aqui: eu.” E de pronto constru� no pensamento mais esse Para�so pra guardar como reserva no meu vasto cora��o, com simplicidade e realeza: um bode majestoso, um sol ardido, ao qual chamaram inferno uns flagelados e uns turistas chamaram arrebol. Mas Para�so, sim, que � lugar de elei��o: Um Siarah com poetas Feitosas, Tufics, Dimas, Florianos, tuaregs, sustos e suspiros, promiss�es e rezas, em que a esperan�a seja um verso s�, seja um fio d’�gua no sert�o, jangadas, engenhocas de pau pra marinar como aquelas talhadas pelos an�nimos homeros de Derek Walcott, uma palmeira debru�ada na marinha farfalhando sob o vento, uma cantata se elevando ao c�u muito do azul. Archiabra�o amigo do Erorci Santana Exuberante! H� que ter vis�o dos valores metalingu�sticos. Da dimens�o das ideias. Do calor vocabular. Do expressionismo sustentador do n�vel autorial. Na minha linguagem: Espl�ndido. Bode deste porte ornamenta minha pasta de guardados-rel�quia. Obrigado pela oportunidade-presente E este bode com cheiro de gente, trabalha em que grau? Exuberante! H� que ter vis�o dos valores metalingu�sticos. Da dimens�o das ideias. Do calor vocabular. Do expressionismo sustentador do n�vel autorial. Na minha linguagem: Espl�ndido. �, de fato, uma bela “hist�ria”, a trajet�ria de um Al�dio, cheio de alumbramentos, dando-se a conhecer pelos remendos da mem�ria de resgate, num magn�fico ensaio sobre o fazer ficcional. Reafirmo a sua capacidade criacional e o seu compromisso com as letras, al�m de apreciar a sua inventividade art�stica e o seu engenho lingu�stico. GISELE LEITE: S� a arte pode fazer com�dia de uma trag�dia, ou transformar uma trag�dia numa com�dia. Gostei muito, parab�ns... Voc� � o melhor contador de hist�rias que j� li... Principalmente pelas entrelinhas... Sim, voc� me � caro pelo que a beleza da tua obra me causa – e eu teimo em imaginar tal beleza aparentada contigo, a quem, em verdade, n�o conhe�o! Te digo com muita objetividade – j� que n�o h� site ou p�gina para voc� saber de mim: sou meio m�dico, meio monstro, ou seja, funcion�rio p�blico – engenheiro sanitarista concursado pela Prefeitura de Divin�polis (MG) – e artista – escritor bissexto, compositor e m�sico. Componho can��es com alguma assiduidade – esse of�cio termina por me fazer tamb�m algum poeta –, estou preparando um CD e terminei h� pouco a revis�o de meu primeiro conto, que estou te enviando anexo. Creio que uma obra de ne�fito mere�a quase sempre algum tipo de cr�tica, do tipo “v� em frente, voc� leva jeito” ou “desista enquanto isso ainda est� entre amigos”. Fique � vontade. Louvo Machado de Assis quando afirma de nada valer sobre o qu� escreve um escritor, mas como escreve – est�tica � tudo. Amo o Cear�, onde estive h� dois anos conhecendo Fortaleza e Jericoacoara (passei por tua cidade natal, colada em Fortaleza, n�o � mesmo?) – seria a Via Catuana a estrada que liga uma a outra? Lembro-me de carnaubais e cajuais sem fim ao longo desse trajeto. Tenho um grande amigo m�sico que � professor da Escola de M�sica da UFC. Chama-se M�rcio Resende – um saxofonista/flautista genial. Perdi o seu paradeiro, e ando atr�s do telefone da UFC para um novo contato – tenho planos de gravar em Fortaleza. Bel�ssima a est�ria do pai do comerciante! Contada com um estilo fascinante, ofereceu-me enorme prazer. Prefiro-a, por enquanto, aos poemas – igualmente lindos, de f�lego criativo descomunal – precisamente por saber o quanto tenho ainda que explor�-los, ao passo que a est�ria j� se consumou de pronto, singrando de uma margem a outra no lago brumoso e tranquilo das minhas veleidades matinais desta 2�-feira modorrenta. Grato por faz�-la melhor!
S� a ARTE, meu caro Feitosa! S� a ARTE, como a sua, seu philos�fico cinemat�grapho de um sert�o maior que o mundo, nos salva da mesmice generalizada ao redor (ressalvadas umas quantas exce��es, pois claro). E vai o abra�o natalino. Izacyl Feitosa, chegou como um presente de Natal. Dia 24, quase meia-noite. O �nico e-mail do dia. Obrigada pela lembran�a, est�ria, o tempo de se perceber o olhar, o tempo de saber quanto foi dito em t�o pouco tempo. Antes do tiro. Coisa da arte da poesia. Coisa de um poeta Noel. Feliz Natal! Li com carinho seu presente (“Um cron�metro para piscinas”), extremamente criativo e que me deixou muito curiosa para ler o resto de Salom�o. N�o tenho muita experi�ncia em analisar textos, mas me sinto � vontade para tecer alguns coment�rios que me chamaram a aten��o: 1. a presen�a ideol�gica machista, tipicamente cultural brasileira, em que o pai de Al�dio podia manter rela��o com v�rias mulheres ao mesmo tempo e isso era plenamente aceito, por�m ao menor deslize de uma delas (Vera), esta mereceu um tiro mortal. E ainda a “compreens�o” aleg�rica e interesseira do coronel com o fato, d� a entender que se fosse ele teria feito a mesma coisa, refor�ando a ideia machista. 2. aquele recorrente “— ?” � genial. Abre um espa�o em que o leitor se projeta, faz ele mesmo os questionamentos acerca dos absurdos que o comerciante conta. O leitor ali entra e se instala como personagem da cena, � onde ele se identifica. 3. e a cita��o em que diz "s� a Arte tem o leg�timo poder de transformar o puro em imundo", aproxima a arte de todos n�s. A arte � um fingimento, e nisso todos somos experts. Quem nunca se viu fazendo o mesmo que o coronel? Enfeitando e ornando uma verdade, lhe acrescentando significado em favor pr�prio? A meu ver essa cita��o do monge (?) coroou o cap�tulo e deu um colorido especial ao seu conte�do, foi o “fecho de ouro”. Caro poeta, este bode d� bode... E como existem deles nos sert�es de Crate�s e Inhamuns. Mas antes, surpresa me causou, e das boas e de vera, n�o a do coronel, nem a vera nem a surpresa, ao acessar e encontrar e ler as mensagens do/no correio eletr�nico, aquele SF, e me surpreendi ainda mais com o pai de chiqueiro... Ap�s a leitura, fico a imaginar, pensar, cogitar sobre o restante, o j� existente e o vindouro, do bode, digo, do cron�metro para piscinas, e por passo � frente, no “Salom�o” (conto? novela? romance?), aguardo o convite para o lan�amento, mas antes deste acontecimento, gostaria de outros peda�os deste churrasco de bode, n�o amarre o bode... Algumas palavras e express�es, t�o nossas, talvez causem estranheza aos de fora ou aos de dentro que est�o fora ou que se sentem como tal (O que � ser cearense? � nascer, crescer e padecer por aqui? Ou n�o nascer por aqui e padecer por causa, a favor daqui? N�o apenas padecer, pois isto � muito crist�o para o meu (anti)gosto... Indo al�m, ou aqu�m, por exemplo, literatura, o que � literatura cearense, a que � feita por aqui e n�o nos diz nada ou a que � feita “fora” e nos � t�o pr�xima? N�o apenas pela geografia ou pela vizinhan�a ou por ser compadre ou... A sua consegue nos fazer encontrar o Cear� e a sua literatura, “consigo mesma”, � por dentro, sem contudo, mas com tudo. Contudo, n�o captei, ainda, depois de algumas leituras, por exemplo: a Monalisa integrando o corpo do texto, ser� ela o resumo de todas as Veras, Marias, Ant�nias e Franciscas e Zuleicas e Kareninas e Btatvaskis e Bovarys e Lolitas e... De Salom�o ou do pai de Al�dio ou do pr�prio, ou do coronel, por que n�o do monge? Existem tantos esc�ndalos na hist�ria, e recentemente ent�o… Mesmo sendo sobre o sert�o, ou como voc� diz “das brenhas dos sertanejos” s� me lembrei de G. Rosa, quando te referes ao “garanchal” e a palavra o trouxe a mim,... creio,... que esta voz do texto, � a tua, pr�pria, diria, a tua pr�pria e particular, agora socializada, e como isto me deixa feliz, pois estou farto de pessoas falando com “l�nguas” que n�o s�o suas. H� um trecho, perto do final, quando surge a fala do/de (um) narrador, que n�o esta claro para mim a sua “intromiss�o” no texto. Outro, onde estava o monge, at� a sua fala? – sobre a fala do monge, questionando o direito do coronel de enfeitar a vers�o contada, pergunto, para al�m do texto, ao autor: a religi�o n�o suporta a arte? Nem o conhecimento? Neste momento me lembro de Nietzsche no nascimento da trag�dia e na Genealogia da moral, mas essa ideia de colocar um personagem modificando dentro do pr�prio texto o pr�prio texto � de esbaga�ar as bandas, n�o a do bode. S�o duas ou mais possibilidades de contar uma mesma hist�ria, � uma “oficina”, um of�cio, um estudo, Metalinguagem ou meta linguagem e com calma(risos)... lembrei-me de Fantoches do E. Ver�ssimo, n�o pelo conte�do ou pela forma, mas porque eu lembrei mesmo, � isso e s�. N�o fiz revis�o de nada. Neste caso a dispers�o e o sentimento trazido pelo texto com m�todo, nestes casos: Bode revisto � cabrito ou cabra, e n�o � da peste. Soares Feitosa, parab�ns pelo seu incans�vel trabalho em prol da literatura e da vida, e da arte, que modifica a vida e a pr�pria arte e a arte dos gregos..., mas “onde se lia o mal, leia-se o bem!”. LUIZ PAULO SANTANA: Li e reli os textos. Reli o poema “Salom�o”. O poema � impressionante, � uma vertigem, comparado com a relativa calma, assim mesmo relativa, da prosa de “Um cron�metro...” e “A prova do fogo”. No poema a atemporalidade se destaca como em tempestade: a cada clar�o, um tempo, ou mesmo v�rios tempos, o que relampeia, o que troveja, o que chove, o que corre pelo ch�o, tudo em f�ria. Na prosa a mesma atemporalidade. Mas os ritmos, as velocidades, s�o diferentes. Ou por outra, viajam em mais palavras. O caminho � mais longo. O fogo atravessando os tempos, desde Prometeu, passando pelos navios negreiros, pela senzala – a gravura de Rugendas – o Coronel aprendiz, as frutas, que o monge cego disse n�o conhecer, e que a m�e do Coronel prometeu servir ali, naquela horinha, como se fosse ontem, como se fosse hoje, como se fosse sempre. E o inusitado cron�metro, mais um sinal dos tempos. Que marca pedacinhos do tempo, recortes. Na cabe�a do narrador ampliando, como uma lupa, o instante fatal, o momento em que tudo pode acontecer para o bem ou para o mal. O cron�metro, uma vez disparado, pode ser detido? E n�s sempre procurando aux�lio num deus cron�metro. � assim mesmo. Somos pequenos mas n�o desistimos. � curioso n�o �, senhora Liberdade, senhor Livre-Arb�trio? N�o, nada disso, desconfio. � que n�o podemos. Tomara que voc� consiga concluir o seu livro nesse 2003. E que ele lhe seja t�o bom quanto. Mando-lhe, j�, j�, um outro e-mail (em resposta ao que voc� me enviou, falando do bode — que n�o acredita em hor�scopo — em que voc� me pede que fale de meus escritos, de minhas leituras e de minha distinta (sic) pessoa. Farei isso j�, j�.
O enigm�tico texto “Um cron�metro para as piscinas” – que j� reparei ser da sua ess�ncia lan�ar enigmas, como nos faz a vida - me levou a uma viagem que tem a ver com mulheres e nossa eterna incompreens�o do universo feminino. At� porque – e isso n�o me escapou – voc� usou a trindade como ponto de equil�brio: tr�s tiros, tr�s c�lices de u�sque; e a passagem mais bela do texto, os tr�s personagens/v�timas unidos no cemit�rio, a ponto de um aguardar o outro, exatamente para formar a tr�ade do traidor, do tra�do e da falecida. Somente a ora��o por sobre o t�mulo foi capaz de unir aquela tr�ade em cumplicidade. Pesquei l� no fundo o tri�ngulo amoroso que permeia a trajet�ria dos grandes romances, valendo s� para citar o maior de todos de nossa terra, o “Dom Casmurro”. Belo texto, sensa��es de estarmos tamb�m perdidos na compreens�o da vol�pia feminina, que n�o aceita as regras do jogo (Vera sabia ser uma dentre outras, mas n�o tinha o direito de pretender fazer de seu protetor um a mais dentre outros), e que nos remonta a uma das mais instigantes cantigas de roda, onde a Terezinha de Jesus deu a m�o ao terceiro – olha a� a tr�ade de novo – recusando a de seu pai e irm�o, pois afinal o cora��o da mulher um dia rompe com suas ra�zes e se entrega ao terceiro que passar� a ser o primeiro. O texto sobre o cron�metro de piscinas se sobressai entre os demais; � um dos melhores que j� li de sua autoria. Vi a caprina hist�ria assim: “Cabra” � uma das chaves, jogo da imagem “cabra” com “cara”. Refere-se sobretudo ao personagem principal da hist�ria, o pai que cometeu o crime. Quanto ao assassinato, trata-se de epis�dio talvez simples, seco e direto, que foi todo ornamentado. Tr�s Veras. Vera � verdade. S�o tr�s os tiros e, a despeito da confus�o, s�o pelo menos tr�s vers�es (tr�s verdades / veras) as que sobressaem: a do pai (o cabra); a do filho (comerciante); e a do coronel. Patativa, literato popular homenageado que ornamenta os acontecimentos com o uso da palavra. Aqui, sin�nimo de arte. Voc�, escritor de forma��o intelectual, que ornamenta o acontecimento com o uso da palavra. Aqui, sin�nimo de arte, tamb�m. Por outro lado, as fotos dos dois ornamentam agora a palavra. H� um jogo de ironia aqui. Monalisa � Vera na janela. Por�m, mais do que isso, simboliza o enigma do texto. O famoso “riso enigm�tico” de Monalisa, de quem se diz representar o pr�prio riso de Da Vinci. Parece-me que a modelo que pousou para o quadro era uma pessoa comum da �poca. Ornamentada pela arte, tornou-se grandiosa e eterna. Decifra-me ou te devoro. As interroga��es v�o descendo pela p�gina. Interroga��es, Monalisa, Cabra, sua foto, Patativa, assim como o pr�prio texto em si. O texto parece querer chamar a aten��o do leitor para o fato de que ali existe um enigma. S� que, contraditoriamente, os recursos para revelar a exist�ncia do enigma, terminam eles mesmos acrescentando enigmas ao enigma. At� mesmo a “Moral da Hist�ria”, que surge na poss�vel fala do monge (nada parece palp�vel na narrativa) possui um car�ter amb�guo, de cr�tica e de elogio, ao mesmo tempo. Por certo h� outros enigmas, outros detalhes. Como bem j� observou Y�da Schmaltz, na opini�o anterior, h� uma “discuss�o do discurso dentro dele pr�prio”. Esse � um dos pontos, ou talvez mais precisamente o ponto: na dimens�o em que vivemos, a verdade � formada por m�ltiplos discursos que se intercalam, sendo fugidio, talvez imposs�vel, o conceito de verdade absoluta. Isso me faz recordar alguma coisa que li em Michel Foucault a respeito. Para encerrar, diria que ocorreu, enquanto escrevia essas palavras, uma esp�cie de “visualiza��o espont�nea”, na qual apareciam tr�s folhas em branco suspensas no ar como plataformas. Em cada uma delas se moviam os acontecimentos das tr�s diferentes vers�es. Talvez adotar como verdade todas as vers�es fosse uma solu��o para o problema. A vers�o, afinal, � sempre maior que o fato. E toda vers�o (todo “boato” como talvez preferisse Uilcon Pereira) tem um fundo (falso?) de verdade. Por outro lado, se f�ssemos proceder assim no cotidiano, isto �, aceitando todos os discursos e vers�es como verdadeiros, terminar�amos sufocados ou perdidos pela impossibilidade de compreender com clareza at� mesmo os mais corriqueiros fatos, tal como, at� certo ponto, sucede tanto aos personagens envolvidos na deliberadamente confusa hist�ria, como com todo aquele que a l�. Talvez resida na constata��o e na proposta desse fen�meno o principal objetivo da narrativa. Ser� que a minha vers�o chegou perto da “verdade verdadeira” a que se prop�e o texto ou fui devorado pela Cabra-esfinge-da-peste? Monalisa. Coronel, voc� n�o prega um prego sem estopa. Na primeira olhada, o indefinido, amb�guo. Qual das hist�rias ... –? Qual o personagem que –? O monge Jorge defende a lei do sert�o? Quem tem muitas mulheres... Em cada uma, as outras... O gemido do aconchego, o cheiro de Vera. O jeito dengoso de uma das Veras enquanto alisa, mesmo que nas m�os, o cheiro de bode requentado {o corisco pela janela}. Al�dio contou uma hist�ria –? A medida que, no decorrer dela, os enfeites e a hist�ria recontada. Veja bem a fotografia desse gesto. Com as m�os l� e c�, pra direita ou pra esquerda, assim �... As m�os como quem mede um porco. S� um g�nio, sert�o, e Cear�. O comerciante FILHO S� de PAI paga em agrados de castanhas a outra quest�o. Pagar� todas. Essa hist�ria de bode enfeitado... Em processo... Castanhas, Scotch Whisky. Tem precis�o de muita arte e manha. Fico � espera enquanto o bode se defende. S� a ARTE, Coronel! Abro os bra�os, meu beijo tamb�m. Rita
Acabo de ler a hist�ria que me enviou e gostei muito. O momento do tiro na testa de Vera � perfeito. Mas o melhor tiro � o olhar certeiro dela, olhar que prenuncia a pr�pria morte, pede perd�o e, ao mesmo tempo, fere para sempre aquele que a molesta. Um olhar inesquec�vel. ROG�RIO LIMA: “Marque o tempo que quiser e repare no ponteiro correndo em dire��o ao eterno. Que pode ser morte, que pode ser vida, que a diferen�a � nenhuma. Quem dir� o lado vencedor ser� sua m�o, sua m�e... Assim, �!...” Fil�sofo, permita-me, mas colho o que bem entendo, pois o texto, seu � que n�o � mais. Parece um Tiago sertanejo ensinando que a vida � como uma n�voa, que repentinamente se dissipa. O tempo corre e n�o nos espera e nem nos d� tr�gua. Nossas escolhas devem ser r�pidas, caso contr�rio a vida n�o nos permitir� escolher coisa alguma. Todavia, fil�sofo, sob as b�n��os do Pai pois caso contr�rio, nossas escolhas ser�o tr�gicas. Que o Senhor, por Sua miseric�rdia, n�o nos permita jamais apontar o ponteiro! Com o grande abra�o. Rog�rio TERESA SCHIAPPA: Caro Feitosa. Agrade�o, al�m da lembran�a, os momentos saboreados de leitura que a reportagem pela Faculdade de letras proporcionou - humor, generosidade com alguma mal�cia � mistura, n�o s� pol�tica... Qualidades cujo "tempero" algo imprevis�vel encontro tamb�m nos poemas: Architetura e Femina est�o talvez nos primeiros lugares das minhas prefer�ncias, mas o ritmo entrecortado de outros n�o deixa de seduzir, como � caso da r�plica do "If". Talvez pela espontaneidade, por vezes at� rudeza, com que obriga a um outro olhar sobre as coisas. N�o sou a �nica a destacar uma frase de antologia, que me tocou especialmente: "A Arte tem o leg�timo poder de transformar o puro em imundo e o imundo em sagrado"; a hist�ria de Alidio, com as suas m�ltiplas nuances (como em tempos a do lobo da f�bula...) confirma isso mesmo. Por uma vez, vejo o monge Jorge reduzido a um sil�ncio sem r�plica! Um abra�o grande e grato da Teresa Schiappa EXCELENTE!!! Eita estorinha confusa...rsssss... E voc� pensa que o povo sabe o que � oit�o da casa? Isto � s� coisa de quem, como n�s, lida com as peixeiras. Admir�vel o seu lidar com a metalinguagem, a discuss�o do discurso dentro dele pr�prio, coisa de mestre. Vou guardar aqui para futura publica��o no boletim, posso? Obrigada pelo momento de prazer est�tico. Y�da |
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John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana