Jorge Amado

Para Soares Feitosa

Caro Soares Feitosa,

Venho de terminar a leitura de "Réquiem em Sol da Tarde" . Leitura demorada não apenas porque atualmente, devido à minha curta visão, leio com dificuldade, penosamente, mas também porque seu livro exige leitura atenta, não se trata de um livro qualquer, reunindo uns quantos poemas de mais um dos muitos poetas brasileiros.

Em verdade são vários livros reunidos num alentado volume e o Poeta não é um poeta qualquer: exige atenção e seriedade.

Não sou crítico literário, para tanto faltam-me vocação e erudição. Menos ainda, crítico de poesia — sobre ficção talvez possa dizer alguma coisa pois, sendo romancista, entendo um pouco do assunto. Poesia apenas leio, gosto ou não gosto, é tudo. Sou mais exigente no que se refere a poesia do que à ficção; para que prossiga na leitura de um livro de poemas faz-se necessário que os poemas me prendam, me envolvam, de certa maneira me dominem. Assim aconteceu com seu livro (seus vários livros).

Creio que Gerardo Mello Mourão definiu sua poesia com exatidão quando diz que você "Canta a saga de nossas paróquias, de nossos vizinhos, de nossa aventura humana na pequena e brava gleba de nossa herança ontológica e existencial". Não seria passível dizer-se nada mais claro e verdadeiro sobre sua poesia.

Devo acrescentar que, igual a Mário Pontes, eu também gosto dos poetas "largados" é o seu caso.

Li o livro todo: os poemas — não posso esconder uma certa preferência por "Compadre-primo" — notas, legendas de retratos, envelopes, etc tal: seu livro é como uma arcas de antigamente, onde eram recolhidas coisas diversas, cada uma delas coa sua importância e significação. Li também as opiniões, tantas, e todas unânimes, a constatar a importância de sua poesia. Poesia "estranha" diz Millôr, dizendo ele também uma verdade. Muitos outras adjetivos poderiam ser acrescentados na busca de uma definição do que é difícil de se definir.

Creio que se trata de poesia, poesia de alta qualidade.

Receba um abraço cordial de seu leitor

Jorge Amado.
Salvador, 19.09.95

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