Álvaro Armando

O Menino Rico Escreve a Papai Noel
                                                     
                            
Papai Noel:
       me perdoa,
Não sei me explicar direito
Minha letra não é boa,
De escrever não tenho jeito.

Sou apenas um menino
Igualzinho aos outros mais.
Tenho fama de granfino
Pois granfinos são meus pais.

O que eu conto é verdadeiro,
É tempo que eu desabafe:
Papai é grande banqueiro,
Mamãe joga pif-paf.
 
A vida deles se arrasta
Na maior monotonia:
Pois toda noite ela gasta
O que ele ganha de dia.

Dessa troca talvez sobre
Muito dinheiro, no meio.
Mas ninguém pensa no pobre
Que ser pobre é triste e feio.

Mamãe (gosto tanto dela!)
Me disse ontem: — Meu filhinho,
Não te esqueças, na janela,
De botar teu sapatinho.

Ora, eu nada mais espero
Este ano de especial
Pois mal uma coisa eu quero
Ganho mesmo sem Natal.

Logo, sem pedido algum,
Porém alegre e risonho
Em vez de botar só um
Meus sapatos todos, ponho.

E indo amanhã pelas ruas
Eu peço, Papai Noel,
Meus brinquedos distribuas
Com Zé, Pedrinho e Manoel.

Esse grupo é meu amigo.
No alto do morro é que mora
E sempre brinca comigo
Quando a Mamãe está fora.

Não te escreveram com medo.
Mas bem que tinham razão:
Como iam pedir brinquedo
Se vivem...  de pé no chão?

                                  
                                                                           
Remetente: Walter Cid

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  23  de  Julho  de  1998