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Atualizado em: 01.01.2000

 
Agostina Akemi Sasaoka
serpente@mail.com
Rua Vergueiro, 1247, apto. 101
Cep: 01504-001 - São Paulo / SP

Nascida em Campinas - SP, em 26.04.77. Poeta, pianista, flautista, cineasta 
e artista plástica, formou-se em Direito pela USP em 1999. Integrante do
Movimento Poético em São Paulo, publicou seu primeiro livro "Poros" em 1997.Atualmente, dedica-se à organização de uma comunidade literária na Internet chamada "A Garganta da Serpente".


  • Poemas de Agostina Akemi Sasaoka

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    TRINDADE

    O tempo passa.
    De dia é céu.
    De noite é inferno.
    Cristo,
    continua de braços abertos.
    O diabo e eu
    de pernas abertas.
    Aguardo o encontro
    dos nossos membros.
    Sou esse corpo,
    esse cálice sem vinho.
    Comungo a vida
    com os camundongos.
    Também sou a pomba
    e o ponto de exclamação.
    Deus se aproxima
    e lambisca o diabo
    - todo o universo gargalha -
    Para que tanta dor?
    É hora de rezar:
    encoste a porta.


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    TRAVESSURA

    Ah, menino...
    Também corri muito
    atrás dos mesmos arranhões que você.
    Papai-do-Céu nos observava
    e as estrelas
    eram mais inatingíveis, não é?
    E a bola
    era o mundo
    que batia no muro.
    Todos os doces
    machucavam nossos sorrisos...
    Que fizemos dos sonhos,
    menino?
    Foi a vida que se tornou um
    esconde-esconde.


     
     


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    PAI

    O homem sorri.
    A mulher cedeu.
    - a tola certeza de que tudo será diferente -
    O corpo se expõe.
    Mãos que afagam,
    ou exigem?
    A mulher ama.
    O homem gozou.
    E num esperma
    expele-se a vida.
    O membro se encolhe:
    já não fará parte de mais nada.
    O erro
    de não poder parir.
     
     
     



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    CASTIGO

    Desencaixo-me displicente.
    Esvaziei-me, enfim.
    Teu corpo
    ainda queima,
    tua mão ainda afaga.
    Jamais
    o prazer fora tão perverso.
    Escondo meus lábios
    atrás do batom.
    Teus olhos
    - canibais marinhos -
    começam a se desfazer.
    Não consigo te acompanhar.
    És tão tolo...
    Ainda me engasgo
    com um último orgasmo.
    Venci.
    Sou aquela
    que pela primeira vez
    amas.
    Mas a noite se esvai.
    Sei que vais me tocar:
    deixarei?
    Não quero me amarrotar.
    Tua boca me implora,
    só que as estrelas se apagaram.
    Vou-me embora
    para nunca mais...
    Se fosse amor,
    não acabaria.



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    INSÔNIA

    A porta ecoou
    o adeus.
    O homem se encolheu.
    As mãos
    ainda lambuzadas de suor.
    Entre os lábios secos
    o nome maldito,
    o gosto do seio.
    A dificuldade
    de abotoar o corpo.
    Deitou-se
    sobre o membro bambo
    esperando o sol nascer.


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    MANHÃ

    É sol.
    Meu olhar mastiga o céu
    e vai cuspindo nuvens.
    O galo já não canta,
    mas sua alma incomoda.
    Ainda ouço o sono dos pernilongos.
    A terra pulsa
    e expulsa suas minhocas,
    suas formigas.
    Sei.
    - sou a próxima a ser decomposta -
    O vidro da janela
    não me permite o vento
    mas aborta as sombras.
    Não consigo me esconder...
    Aguardo.
    As borboletas não tardarão:
    só elas aliviam.
    Não posso interromper esse parto.
    E a lágrima germina
    - ininterrupta -
    enquanto a vida passa.
    O café está salgado demais.
    Quero ler o jornal do dia seguinte!
    De repende,
    o relógio.
    Os pés bocejam no corredor.
    A rotina rodopia
    por detrás da porta.
    Entardecerá.



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    LÁPIDE

    No tumulto do meu corpo,
    no tumulto do seu túmulo,
    vejo crescer a sombra do mal.
    O sol desce
    enquanto o ar envelhece.
    Toda a Terra se voltou
    à espera da dor.
    Os lábios na laje,
    o abraço inerte...
    A tarde não cairá.
    Entre as pedras
    dos meus olhos,
    encontro seu aceno.
    As andorinhas voam
    como pernilongos alegres.
    Perdi as cores.
    Agora,
    toda a paixão
    é essa poeira fina
    que invade o céu.
     
     
     



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    ABSOLVIÇÃO

    É muito noite.
    Como jamais fora.
    O grilo irrita
    mas não percebe.
    Todas as estrelas me escutam,
    mas não tenho o que dizer.
    É só esse arrepio,
    esse berro do peito
    dentro do coração.
    Também há tulipas.
    E o sono não vem.
    Não virá.
    Jamais voltarei a acordar.
    Tudo culpa do corpo,
    esse parasita que te implora.
    Há barulho demais
    para sonhar.
    Meu sorriso perturba a escuridão
    e ecoa pelo universo.
    Vou rezar.
    ....
    Deus me perdoou:
    impossibilidade
    de pecar.


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    APELO

    Não mais o beijo,
    apenas a sombra
    dos teus lábios em mim.
    Nada do cio
    afora o grito incontínuo.
    Não mais teu sorriso,
    só o suor
    que vaga moribundo em minha pele.
    Nada do gesto
    além do pecado
    (incondicional).
    Não mais a nudez:
    apenas o eco
    do teu corpo em cópula.


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    FELÍDEO

    O dia se estanca.
    Desce o infinito.
    Na sombra do teu corpo
    incrusto meu beijo.
    Teu sorriso se ergue,
    como um leão que matará
    - ainda que se arrependa.
    Estilhaços dos teus toques
    espalham-se pelo meu corpo.
    Teu olhar,
    angústia cósmica,
    parasita meus sonhos.
    A mão,
    enfim,
    desata minha pele que foge.
    Não se assuste com os silêncios:
    todas as estrelas caíram.
    Eis-me aqui,
    a erguer colunas de sorrisos,
    a correr pelo universo.
    Os paraísos se destruíram.
    Todas as pernas se abriram...
    Ainda que tua boca me desafie
    e que a noite jamais termine,
    abraçar-me-ei em teu pescoço
    pronta a partir.
    Sei.
    Teu nome é proibido.
    Teu mundo é caos:
    estás perdido em mim.
    (a alma vagueia enquanto o corpo oscila)
    Mesmo que nunca me ames
    basta que existas,
    basta que resistas.
    Meu prazer é imortal.
    Olhas como um gato prestes a miar.
    No meio do ato
    crava-se em meu seio como punhal.
    Sobrevivi. 


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