Azinhal Abelho


Comoção Rural

Já não há quem queira dar uma filha a um ganhão… Senhor Pai, senhora mãe, que grande desolação. Já bati a sete portas por mais de mil e uma vez; Vá-se embora seu ganhão, disseram com altivez… A minha filha é prendada, não é para qualquer tunante, sabe ler, sabe escrever e todo o seu consoante. O que é que tem um ganhão? Um azinho dum pau torto; só vive das tristes ervas, não tem onde cair morto. Os olhos já não são olhos, estão estão desfeitos em chorar, porque a um pobre ganhão já não há quem queira dar nem mulher para dormir nem a filha para mulher; nem quem o ajude a vestir, nem quem o ajude a morrer. Ramos secos, estéreis flores, pedras de arestas cortantes perdidas num vendaval, perdidas numa aflição… Eu já não posso gritar; Senhor Pai, senhora Mãe, que grande desolação nestes matagais com longes, aonde os anjos se afundam em humus e punição! (in Antologia de Poetas Alentejanos)


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