Amândio César


Que Hora é Esta?

É em vão que o sol doura As asperezas da terra: Secou na seara loura Toda a esperança que ela encerra. Baldadas todas as horas, Todos os passos sem fim. Murchou de vez o alecrim, Secaram roxas amoras. É quente a água das fontes, Escalda o sangue nas veias: São de fogo os grãos de areias E as pragas negras dos montes. Para quê lutar ainda Numa luta sem sentido? Sofre-se por se ter sofrido Esta angústia que não finda. Angústia que sobe à boca Que amarga como a amargura — Existência mal segura, Fazenda que mal dá roupa. Cansaram-se assim de tudo, Todos nos pesam demais — Os poetas são jograis E o seu cantar quase mudo.


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