Alberto da Costa e Silva

Flumen, Fluminis
       
 
Ouçamos o fluir deste curso de rio 
entre velhos muros imóveis de fadiga 
não apenas meras lajes limitadas e cinzentas 
mas pedras tristes e calmas 
entre as quais escorre o límpido silêncio 
da água que flui sobre a nudez  
pura da morte 

em nenhuma outra fonte, o cansaço 
de ser manhã quando a noite se debruça 
sobre nós, sofreremos 
pois tão estranhos seremos ao murmúrio 
de suas águas veladas 
à música que nada anuncia a não ser primaveras 
como agora sôfregos, nos reclinamos  
sobre o líquido móvel deste rio que leva 
para o mar distante e irrevelado 
estas formas maduras e tranqüilas 
este sopro perfeito 
daquilo que foi apenas o fugidio e precário pó.

 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  19  de  Agosto  de  1998