De pé na varanda recordando
o menino a tosquiar o pêlo do carneiro
flautas de um azul sobre a terra dos telhados
enquanto parto adeus! aceno do cavalo
logo as lavadeiras cantam a branda espuma
e o focinho estremece do animal detido
pelas rédeas na mão do menino no açude
tranqüilo é o sol e o sonho é invertido
e se alguém nasceu por fugir do silêncio
nem por isso as palmeiras se cansaram
de sua sombra de cravo tocado pelos dedos
e louça da manhã disposta sobre a mesa
adeus! que já desabam as folhas mamoeiros
se partem à beira d’água enquanto indago e escuto
a minha voz o canto de um inferno vencido
pelo odor das mangas e o prostrado menino
que soluça tombado sobre o magro joelho
de um outro (velho) fácil é apear-se a cilha
se aperta depressa e dóceis são os dias
que a palavra recria como flores de cacto
mas vivê-los? vivê-los nem as bilhas
com sua clara frescura nos devolvem
esta alegria de sonhá-los altos
e não a areia pobre que nos deram
e se pelo natal devoramos castanhas
de que inverno nascem que dias adormecem
em sua polpa branca é a camisa que veste
o corpo solitário a beber o seu vinho
espanco o animal o pranto suja o rosto
salto o tear das flores até à vista! meus
são os verões por viver e os campos de dores
o sol não se disfarça nos olhos dos coelhos. |