Quem fez de tua corola
a boca que não responde
e se verga à brisa e corta
nosso espanto e nossa fome?
Qual a fonte que te banha,
que não mana, nem se esconde
entre as ramas, e na fronte
os cabelos nos derrama?
De que és feita, de que asa
sem inércia e vôo, ausente,
mas que embalam, nas sacadas
os leques? O rio que mente,
que oculta seu curso e praias,
teu segredo também cala.
Que escondes, ó flor? Desmaia
em nosso olhar tua cor
de ar sem céu, sem perfume,
sopro que morre na flauta,
cornamusa muda, ovelha
sem lã, aprisco e pastor.
Por entre a mão frágil, fina,
que dobra a haste sem trama
vegetal, que não te liga
nem à terra, nem ao drama
do meu sonho, ó inexistente
que em pura beleza existes,
por que foges? De que chama
nasce e morre o breve ausente?
Vences a sombra... A lembrança,
ó lânguido quartzo, ó nada ,
mentira de vergel mansa,
é uma rede imaculada,
pois morres sem ver os dias
no teu exílio sem tempo,
sem que recebas a herança
dos jarros das madrugadas.
Ó vertigem, claro ente
de um paraíso feroz,
sal e carne dessas ondas
que as tarrafas nunca prendem,
que raízes tens na tarde
dividida pelo sol
e o seu prenúncio lunar?
Por que ficas, puro e só,
centauro de flor e ar,
que inventas a nostalgia
de ser eterno, não sendo
martírio de um raro olhar? |