Alberto da Costa e Silva

O Espaço Vazio
       
 
Quem fez de tua corola 
a boca que não responde 
e se verga à brisa e corta 
nosso espanto e nossa fome? 

Qual a fonte que te banha, 
que não mana, nem se esconde 
entre as ramas, e na fronte 
os cabelos nos derrama? 

De que és feita, de que asa 
sem inércia e vôo, ausente, 
mas que embalam, nas sacadas  
os leques? O rio que mente, 

que oculta seu curso e praias,  
teu segredo também cala. 
Que escondes, ó flor? Desmaia 
em nosso olhar tua cor 

de ar sem céu, sem perfume, 
sopro que morre na flauta, 
cornamusa muda, ovelha 
sem lã, aprisco e pastor. 

Por entre a mão frágil, fina, 
que dobra a haste sem trama 
vegetal, que não te liga  
nem à terra, nem ao drama 

do meu sonho, ó inexistente 
que em pura beleza existes, 
por que foges? De que chama 
nasce e morre o breve ausente? 

Vences a sombra... A lembrança, 
ó lânguido quartzo, ó nada ,  
mentira de vergel mansa, 
 é uma rede imaculada, 

pois morres sem ver os dias 
no teu exílio sem tempo,  
sem que recebas a herança 
dos jarros das madrugadas.  

Ó vertigem, claro ente 
de um paraíso feroz,  
sal e carne dessas ondas 
que as tarrafas nunca prendem, 

que raízes tens na tarde 
dividida pelo sol 
e o seu prenúncio lunar?  
Por que ficas, puro e só, 

centauro de flor e ar, 
que inventas  a nostalgia 
de ser eterno, não sendo 
martírio de um raro olhar?

 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  19  de  Agosto  de  1998