Alberto da Costa e Silva

Vigília
       
 
Quando as lágrimas vêm, em vão fugimos 
do que em nós faz o amor, em vão tecemos 
vestes para cobrir o corpo nu, 
que se nutre do pranto, humilde e humano.  
Fazemos nosso leito. A mesa pomos. 
O rosto se derrama em nossas mãos. 
Queremos repartir a fome e o sono. 
Vivemos nossa espera, enquanto, mudos, 
fluímos para o encontro e retornamos 
à infância, mansa páscoa, frágil vime. 
Não mais somos nós mesmos; somos mais 
do que nós mesmos ou alguém mais puro,  
um sonho de não ser, ah, sendo e amando.
 

[ ÍNDICE ANTERIOR ][ PÁGINA PRINCIPAL ]
 
 
Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  19  de  Agosto  de  1998