§ meu pai dizia as mangas que enverdeçam
para que o sal lhes dê um novo gosto
cortava o sol em fatias o sumo o rosto
sujava de luar de mate ou pouca
luz que fundeia na sombra da jaqueira
chegava à carne do fruto à
rude juba
que arma em fera a pele do caroço
§ à margem do curral mergulho aberto
do tamarindo meu pai dizia fazes
o desgosto compões cada segredo
a cresciúma os ninhos nos alpendres
o adeus com flores os ombros dos mendigos
a sustentar a curva porta os cegos
a cavalo e os porcos nos açougues
§ o azul é rouco e teu meu pai dizia
este silêncio de viração
furtada
outras monções com cheiro
de goiaba
§ sabor só soturno soterrado
dá a manga o trotar o alaúde
meu pai dizia o sol é sal e o solo
nada cultiva em nós nem a descalça
morte rastro leve na farinha. |