Alberto da Costa e Silva

Triste Vida Corporal
       
 
Se houvesse o eterno instante e a ave
ficasse em cada bater d’asas para sempre,
se cada som de flauta, sussurro de samambaia,
mover, sopro e sombra das menores cousas
não fossem a intuição da morte, 
salsa que se parte...   Os grilos devorados
não fossem, no riso da relva, a mesma certeza
de que é leve a nossa carne e triste a nossa vida
corporal, faríamos do sonho e do amor 
não apenas esta renda serena de espera, 
mas um sol sobre dunas e limpo mar, imóvel,
alto, completo, eterno,
                                       e não o pranto humano.
 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  25  de  Agosto  de  1998