Nada quis ser, senão menino. Por dentro e por fora, menino.
Por isso, venho de minha vida adulta como quem esfregasse na
pureza e na graça o pano sujo dos atos nem sequer vazios,
apenas
mesquinhos e com frutos sem rumo.
Como se escovar os dentes fosse montar num cavalo e levá-lo
a
beber água ao riacho! Como se importasse à causa humana
ler os
jornais do dia!
Era melhor, talvez, ficar olhando, completo, perfeito, os calangos
a tomar sol no muro, sem trair o silêncio, sentindo o dia,
para
conhecer o mundo, para saber que estou vivo.
Se não se têm esses olhos de infantil verdade, todas
as cousas nos
enganam, tornam-se as palavras sem carne com que construímos
a
árida abstração que é o curral dos adultos.
Depois dos quinze anos, quase nada aprendemos: a dar laço
em
gravatas, por exemplo. |