Alberto da Costa e Silva

Soneto
        
            
Alto me sonho, mas sou apenas homem:
alguns dias a infância desterrada
em outro ser (e o ar que as mãos agarram
se vai movendo em nós, respiro fraco

com que me gasto, calmo, rês, mudado
no tempo em que me faço e me desfaço,
humilde, cego, em lágrimas sangrado,
passagem de luar, bicho deserto)

que sente, alguma vez, a despenhar-se
o espaço nas coisas, grande, alado, 
ou sobre mim, em mim, no ser atado

à vida, à terra, a este adeus cortado,
e vê o mundo a reerguer-se, aberto,
no refino da espera e de um abraço.

 

[ ÍNDICE ANTERIOR ][ PÁGINA PRINCIPAL ]
 
 
Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  26  de  Agosto  de  1998