Meu pai,que estás no céu,
no céu que vejo,
neste céu que respiro e que me veste
(e não naquele de derrota feito,
em que o eterno disfarça o sonho breve),
repara em mim,
em mim, que me envelhece
a tua falta
(a tua falta cresce
e desfaz o rancor desta certeza:
mesmo na morte o corpo dói), protege
o homem que fizeste e que, menino,
se agacha junto à quina das paredes,
o queixo nos joelhos,
o olhar cego
a outro tempo que não seja ainda
imóvel, puro, certo,
como tu,
como tu, que estou sendo
na carne que, em mim,
é o teu degredo. |