As mãos são como a chuva. Desenrolam
a rede do armador e a estendem, barco
no remanso do quarto. As mãos convocam
o que há, no verão, de sonolência.
As mãos repartem, leves, os cabelos.
O alado cafuné azula a serra,
afugenta os morcegos, põe nas sombras
o cantar do correr de pés na areia.
O remar da carícia afina as formas
deste mundo barroco e o faz conciso,
uma linha de luz na noite. Corre
pelo urdume do sonho outra beleza
(só tive Deus em mim alguns momentos)
que o tempo não corrói, nem o sol cobre. |