Limpas a mão
nas flores
e ris
para o escondido.
Estás sentado na grama,
a resvalar
para a terra dos canteiros,
atento ao grilo e à cigarra,
quase intocado
pelo passar
do sol,
do sol que arranca
as sombras
que se veriam
imóveis
(assim a calmaria
do linho nos varais),
se
da vida
não germinasse
a eternidade.
Tua mão
limpa
as pétalas
das flores.
Faz-se mais puro o mundo
com teu corpo.
Por ser belo viver
(e é belo ser breve),
o efêmero, Antônio
Pedro, não desmente
que as nuvens mudam o céu,
que a lua apaga
a lua anterior
e que a semente
é apenas
o adeus do que foi fruto
— do que foi fruto, mas breve
para sempre.
Se se pudesse passar de uma infância a outra infância
o sonho e a paisagem,
sagüis e caxinguelês
a limparem no rosto as mãozinhas, coelhos
a roer a alface
e, leve
no roçar da relva,
como se caminhasse
sobre as flores e as folhas
que flutuam nas águas,
azul, a saracura
de canarana, os pombos
e os marrecos voltariam
ao chão em que te ponho
e que foi a paisagem
do menino escondido
no olhar do teu sonho. |