E quando eu era um príncipe e andava entre os rebanhos,
e só havia a pressa do bonde e da guitarra,
eu ia para a escola montado num carneiro,
o pássaro do sonho pousado no meu ombro.
E passavam por mim, a conduzir os jumentos,
aguadeiros descalços, franzinos, remelentos,
e a dor que deles tinha, ensolarada no corpo,
eu a via queimar-se no fogão da cozinha,
nas guelras dos pescados, na rouquidão espessa
do grito das galinhas, no retesar da corda
que prendia os cabritos, os asnos e os sonhins.
Mas não a imaginava nesta adulta tristeza
e que vestiram de amor, como se não bastasse
que a ave no meu ombro me bicasse a orelha. |