Repara, Miguilim, nos passarinhos,
que são de um céu contrário ao das estrelas,
a jogar o pião, a pular cercas,
a correr com o arco e, sem certezas,
a ir de chão em chão, enquanto elas
não abrem em rosa os seus botões e, presas
nas gaiolas do sempre, rodam eternas.
Repara, Miguilim, nos pequeninos
grãos na ponta da grama, vê os grilos
como pandorgas contra as brisas verdes,
o ouro velho no ventre das abelhas,
e ouve o que te digo: o que é menino
não chega a velho jamais, não adoece
de seriedade, não se pui, não passa,
não usa paletó, nem põe gravata.
Repara, Miguilim, que não se aparta
da viagem o barco que na praia
se limpa dos mariscos, que traz d'água
aquele instante em que o sono acaba
e nos devolve a casa e o que é concreto
num ramalhete de mistura ao sonho.
Por isso te direi: repara, o incerto
vôo do inseto, sendo breve, o longo
lançar de ponte sobre o vão do eterno
imita, Miguilim, e o feio é belo. |