Adolfo Casais Monteiro

Permanência

Não peçam aos poetas um caminho. O poeta não sabe nada de geografia celestial. Anda aos encontrões da realidade sem acertar o tempo com o espaço. Os relógios e as fronteiras não tem tradução na sua língua. Falta-lhe o amor da convenção em que nas outras as palavras fingem de certezas. O poeta lê apenas os sinais da terra. Seus passos cobrem apenas distâncias de amor e de presença. Sabe apenas inúteis palavras de consolo e mágoa pelo inútil. Conhece apenas do tempo o já perdido; do amor a câmara escura sem revelações; do espaço o silêncio de um vôo pairando em toda a parte. Cego entre as veredas obscuras é ninguém e nada sabe - morto redivivo. Tudo é simples para quem adia sempre o momento de olhar de frente a ameaça de quanto não tem resposta. Tudo é nada para quem descreu de si e do mundo e de olhos cegos vai dizendo: Não há o que não entendo.


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