Viana,
mansa e leve,
de ruas estreitas e tristes
mas com o sabor de sonho e eternidade
por isso convivo com o gosto de lago
permanentemente resmungando saudades.
As lendas de Mocoroca
locomovem-se na dor que não aduba
mas remove e resolve o meu itinerário
magoando, no patuá das lembranças
o calendário
que os vaqueiros riscam nos portais,
os pescadores contam nos dedos
e que eu não enxergo na fluidez do mais,
mas conduzo na maquilagem do panorama
envolvendo de encantos
as manhãs, os campos, o lago
e os crepúsculos de Viana.
Bambos panos de mastros nos fatigados barcos
no plástico bailado das canoas,
piquenique de aves sobre o lago
umas chegando enquanto outras voam,
pingos móveis no campo:
negros, castanhos, malhados, brancos,
do gado pastando na distância
e as velhas casas erguendo-se das águas
num bale de lembranças.
Nas cintilações sobre as cristas das vagas
na escuridão do lago,
flutuam sussurros plenos de ternura
como se fossem estrelas em diálogo,
mas aos zurzidos dos chamatós nas calçadas,
e ruídos aurorais das redes nas escápulas,
o lago volta ao festival das garças,
o vento sopra o velâmen e a neblina,
dos telhados encardidos os pássaros esvoaçam
e tudo se ilumina
sobre Viana, mansa e leve,
onde as coisas nascem antigas
e nunca mais envelhecem. |