Afonso de Freitas 

Poema das Sombras das Barcaças.
 
Todas as noites  
eu procuro a solidão da beira - mar 
na ânsia infinita de encontrar 
o que há mais desejo. 
A sombra das barcaças presas ao cais 
parecem pensativas, 
lembram-se talvez, 
das noites que se foram, 
das tardes tempestuosas 
em que o céu e o mar em luta qual gigantes 
ameaçaram-nas tragar a quase todo instante. 
E pensam a dançar... 
pensam, a dançar, na angústia incontida 
dos valentes barqueiros nas barcaças perdidas 
na vastidão do mar. 
As sombras das barcaças presas ao cais 
parecem as almas dos barqueiros  
que se foram para o mar 
e não voltaram mais 
e tem o aspecto tristonho 
das muralhas caídas, que eu vejo nos meus sonhos. 
São ruínas de lindos bangalôs 
construídos, outrora, para o meu amor, 
e o meu amor era bela como uma tarde formosa, 
E nessas tardes assim, 
saía ao jardim e perfumando as rosas, 
voltava com blandícias 
que para mim tinham o calor de todas as carícias. 

Mas, um dia, 
numa noite tristonha, plissada de luar, 
eu a sorrir, ela a chorar, 
brigamos por motivos tão banais... 
e desde esse dia ela nunca mais me viu, 
nem eu a vi, nunca mais;

 
Remetente: Chico Poeta

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  24 de novembro de 1997