O Choro de África
O choro
durante séculos
nos
seus olhos traidores pela servidão dos homens
no
desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas
nos
batuques choro de África
nos
sorrisos choro de África
nos
sarcasmos no trabalho choro de África
Sempre
o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu
irmão Nguxi e amigo Mussunda
no
círculo das violências
mesmo
na magia poderosa da terra
e
da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e
das hemorragias dos ritmos das feridas de África
e mesmo
na morte do sangue ao contato com o chão
mesmo
no florir aromatizado da floresta
mesmo
na folha
no
fruto
na
agilidade da zebra
na
secura do deserto
na
harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo
na beleza do trabalho construtivo dos homens
o choro
de séculos
inventado
na servidão
em
historias de dramas negros almas brancas preguiças
e
espíritos infantis de África
as
mentiras choros verdadeiros nas suas bocas
o choro
de séculos
onde
a verdade violentada se estiola no circulo de ferro
da
desonesta forca
sacrificadora
dos corpos cadaverizados
inimiga
da vida
fechada
em estreitos cérebros de maquinas de contar
na
violência
na
violência
na
violência
O choro
de África e' um sintoma
Nos
temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidas
nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E
amor
e
os olhos secos.
(Poemas, 1961) |