António José Maldonado

Os Fundadores de Cidades
                           
                   
        Vós fundadores de cidades
aproximais os caules      a alvenaria
fundido o osso frágil
o projecto e o necessário alinhamento
casas erguidas quanto as aves no espaço. 
        Vós fundadores de gerações transitórias
no branco fulgor da íris
das lápides sobrevoando os grandes nomes 
as bocas dos ventos descendo às ínsuas. 
        Somos simulacros      é tempo de rever o tempo
o sólido mas combustível texto
com arcos e letras finas 
o olfacto      o ouvido a postos      o fuzil da  
língua      não bastam. 
        Já chorámos tudo
os heróis úteis acrescentados à página.
 
        Vós fundadores
despedi as vulneráveis tribos guerreiras
masturbadoras de povos 
as pálpebras listradas de armadilhas. 
        Ouvi o grito rouco      o fremir das Cíclades
o nosso preço eleva-se das faces lívidas nos
prodígios do século 
seu mastro de espessa nuvem.
        - Ouvi      ouvi as veias túrgidas da terra 
e os sinos do alto esplendor.
        Ó júbilo!  - cidade de cúpulas arfando
raça de herdeiros
sentinelas do início e do fim.
 
 
Do livro "Voltaremos aos Nomes" - Inédito em papel e tinta
 
Remetente : Maria Alice Vila Fabião

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  20  de Março de 1998