Voltaremos aos nomes
- quantos quantos nomes que se adiam -
mas voltaremos aos nomes de todas as ur-
bes e de todas as crias
à servidão de um povo
às túnicas dos
vivos
aos abismos da anatomia voltaremos
que dizer do corpo e seus assombros
voltaremos à boca
ao seu cheiro de prelo e de correio
mensageira do verbo
do carro com locatário - que destino?
Voltaremos ao pouco estuque
ins-
talado na mão no braço no pé rasteiro
ao ritual das unhas e à orelha de per-
meio aos quantos cinco sentidos.
Voltaremos às
rugas e ao seu corropio
ao sangue deslizante à matéria
da nudez
à terra parturiente em seu gemido
à grande sala de vagarosa amplidão
aos rios - longos longos rios do tempo -
e à sua caligrafia
fartos rios com vogais e correntes
e aos mares a todos os mares pio-
neiros
ao seu impulso de espuma e de navios
aos cais de todas as esquinas
e de marinheiros esguios.
E como responder
ao branco-azul aglo-
merado das águas
a esse coração de espaços cegos
líquido sôfrego que flutua entre o peito
da grande muralha e o rancoroso olhar
da audácia.
Mentiríamos se
não disséssemos
que ao lume tumefacto voltaríamos
a todo o lar erguido sobre a técnica an-
tiquíssima do fogo aos seus
exportado-
res e expectantes incêndios
ao rebanho das coisas voltaremos
à liturgia polémica do galo o pórtico das
manhãs abrindo
à tralha da casa à alvenaria
e ao tijolo
à trave abandonada ao
dormitório e às go-
teiras envolventes
ao sono das papoilas às madeiras
que es-
talam na noite a desoras
e à sem razão de um choro
ao lixo nocturno voltaremos
às litanias aos atalhos e oficinas
às litografias
- quantos quantos nomes
- que sei eu?
aos bonzos e muitas bandejas onde serví-
ramos cordeiro voltaremos
à punição do tempo e às gárgulas
da paz
à letra sem acerto e à clepsidra escorrendo
aos correctos archeiros e a outras tantas
coisas repetidas voltaremos
Mas que sei eu?
voltaremos ao corpo e seu destino
às cidades costeiras e aos forasteiros
que fomos e seremos
ao coro dos navios e seu destino
aos subúrbios das galés e seu destino
aos líquidos retiros voltaremos
aos estendais da íris onde alugamos so-
lertes sonhos e as janelas vagueiam
à formiga e ao seu minúsculo miolo de
justiça aos baldios e pradarias
à cabra cuspida do monte
aos búfalos e garanhões da noite
ali onde a égua prenhe do vale relincha
e o êxtase fermenta
aos olhos reclinados em pompas e vaivéns de
ventos
sangue de bacelo no despojo e nos rápidos
prodígios
ao dorso suculento junto à violência do
potro voltaremos
aos arcos ocultos aos destroços
do dia
aos cachos viris de sumo sob alpendres
aos vitrais e rústica alfazema
às tréguas nas batalhas
aos letreiros va-
zios às insígnias das nuvens
- que Sibilas? vol-
taremos
ao parapeito e preceitos do céu
e que sei eu? aos anjos e sua versão
de
humanos voltaremos a Deus e à
sua ri-
gorosa altura ao pavor da Beleza
à secundária cultura da morte
ao fedor do aterro e à existencial
ma-
gnólia de todos ignorada
voltaremos ao ciclo e ao terreiro de todas
as palavras geradoras do primeiro dia e do fim. |