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Página atualizada em 19.05.2000
Antônio Justa


Biobibliografia não temos ainda (mande)

Poemas:  não temos ainda (mande)

Crítica:

  1. José Alcides Pinto escreve sobre Antônio Justa

 


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Antônio Justa


José Alcides Pinto




     Quem é Antônio Justa, o admirável poeta de "Ansiedade" e o vitorioso romancista de "Lázaro"? Há 40 anos atrás esta pergunta não precisava ser feita. Ele estava em plena efervescência de sua criação ao lado de amigos intelectuais atuantes nas letras. Agora porém o tempo passou. E como todos sabem, este país não tem memória…

     Claro que o homem do qual nos ocupamos agora não precisa da posteridade para ser consagrado. Sua obra fala por si mesma: polígrafo, um dos mais fecundos escritores de seu tempo: romancista, cronista, crítico literário, teatrólogo e poeta, em todos esses gêneros deixou impressa a marca de seu talento.

     Não queremos ir além destes títulos, mas não podemos excluir o grande conferencista que ele foi, ao lado do jornalista polêmico e rebelde, ao tempo de sua juventude. Antônio Justa, em acirradas campanhas políticas, saía em defesa dos injustiçados e oprimidos. Seu sentimento cívico parecia ultrapassar toda a razão humana.

     Ele pertence à coorte de bravos, daqueles que abriram caminhos em nossa história republicana, os chamados jornalistas da independência: Januário da Cunha Barbosa, Quintino Bocaiúva, José do Patrocínio, Frei Caneca, Joaquim Nabuco, Maciel Pinheiro e tantos e tantos outros, incluindo o moço baiano Antônio de Castro Alves, alma juvenil em chamas e amores se consumindo.

     Corajoso e audaz, cuja pena ferina lembrava Gregório de Matos Guerra e Agripino Grieco, seu grande amigo, para ficar por enquanto só com esses dois vultos-marcos de nossa história literária.

     A mordacidade de Voltaire, uma de suas paixões a vida inteira, aliada à ironia eciana e machadiana, fizeram desse autor o preferido dos leitores mais exigentes, tanto pela sagacidade de seu espírito retilíneo quanto pela visão social presente em toda sua obra poética e ficcional.

     Considerado o ativista mais audacioso de sua época, quando residia ainda no Maranhão, agitando a pacata urbe provinciana, berço de castas donzelas de seios nervados ou de peles douradas pela luz dos trópicos, passeando de guarda-chuva aberto pelas praças e vielas onde Gonçalves Dias sonhava ouvir o canto do sabiá nas esguias palmeiras de sua terra natal.

     Pois bem: este cearense que veio à luz do mundo em 25 de fevereiro de 1916, anda um tanto esquecido de seus contemporânos, morando embora no coração do Rio de Janeiro, e seja o diretor de um órgão literário dos mais importantes do país, a Revista da Academia de Literatura, que desde 1935 jamais deixou de circular, reunindo as mais expressivas figuras literárias, a cujos quadros pertencem intelectuais ilustres como Leodegario A. de Azevedo Filho, crítico, poeta e filósofo de conceito internacional, Armindo Pereira, Humberto Peregrino, Antônio Carlos Villaça e outros nomes ilustres.

     Antônio Justa continua o mesmo sonhador de sempre, fiel às rimas e às metricas que elegeram os melhores poetas românticos e parnasianos brasileiros.

     Satírico como Voltaire, a que já nos reportamos acima, às vezes lírico e social em sua poesia, recentemente reunida sob o título de "Carmina Mea" (versos de ontem e hoje) por uma Editora do Rio, com prefácio de J. E. Pizarro Drummond, que em bom tom transcreve partes do poema "Panorama":

     "Altas vozes da selva! Cristais de águas

     Que falam pela voz das cachoeiras Emudeçam! Eu canto agora as mágoas

     E os tormentos das almas brasileiras!"

     O conceituado crítico e poeta maranhense, José Chagas, fala de seu romance, "Praia do Desterro" com grande entusiasmo: "A história que tem muito de autobiografia se desenrola dentro daquele período em que se deram as greves contra a posse dee Eugênio Barros, o que vale dizer, dentro de um clima carregado de todos os miasmas políticos, onde imperavam as fraudes eleitorais, as perseguições, as emboscadas, os incêndios, os enterros de pessoas vivas, São Luís vivendo entre sangue e cinzas, deixando de ser a 'Atenas Brasileiras' para ser uma desgraçada Roma cercada de Neros, por todos os lados."

     Também Adonias Filho, Luiz da Câmara Cascudo, Othon Costa, Rodrigues Crêspo, Carlos Maul, João Felício dos Santos, criador de nosso romance histórico ("Carlota Joaquina"), Tobias Pinheiro, Agenor Ribeiro, e ainda de cearenses de reconhecido valor como, Caio Cid, Hermenegildo de Sá Cavalcante, Abdias Lima, Vasques Filho, Frota Aguiar e Mont'Alverne Frota não pouparam elogios à obra de Antônio Justa.Mas "Lázaro" é, inquestionavelmente, o seu melhor livro de ficção, como "Ansiedade", o de poesia, recebendo ambos ao tempo de sua publicação, os aplausos da crítica nacional.

     Sua obra oscila entre o bem e o mal, o sagrado e o profano, combinando maldição e divindade. Essa tem sido a marca maior dos malditos iluminados, como Baudelaire, Rimbaud, Lautréamont e Augusto dos Anjos, por exemplo.

     A verdade é que nosso poeta é uma alma dilacerada pelo amor os desígnios do mundo, como Dostoievski e Kafka, Camus e Unamuno.

     Conhecedor da essência e das técnicas da linguagem clássica, seus mestres vão de Dante a Milton, de Virgílio a Camões, sem falar em Shakespeare e Homero, fonte de sabedoria e conhecimento - matriz da ciência do saber demônio.

     Poetas do porte de Paschoal Villaboim Filho, autor de "Canudos", livro que se ombreia ao de Euclides da Cunha - poema único de 230 páginas, e que se constitui uma verdadeira epopéia, refere-se a Antônio Justa com exaltação, destacando-lhe as metáfora arrojadas, o estilo grandiloqüente, as onomatopéias e sinestesias, além das perífrases, encontradas, segundo o crítico Geraldo Menezes, também (e sobretudo) no poema-livro de Villaboim, eminente poeta e matemático, conhecido em todo o mundo.

     Este homem, repito, não quis ser "um moderno", sendo-o, embora, em certas circunstâncias, pelo áureo sopro renovador de sua poesia.

     Em síntese, Antônio Justa não precisou, como Camões, invocar as Tágides, pedindo-lhes um som alto e sublimado para inspiração de seus poemas. Ele nasceu poeta, poeta vocacional, dom que Deus lhe Deus e Diabo algum pode tirar.

     Não poderíamos, não obstante, encerrar estas notas, sem antes mostrar o depoimento de dois intelectuais de sua geração no Ceará, Carlos Cavalcante (Caio Cid), o primoroso poeta de "Aleuda", e Abdias Lima, o crítico mais sensível e atuante das letras alencarinas. Diz Caio Cid: "Antônio Justa não lembra qualquer escola que lhe prejudique a originalidade. Situa-se - conclusão minha - entre o parnasianismo já avançado na idéia e na forma e o modernismo ainda comedido."

     Mas quem melhor iria definir a poesia de Antônio Justa, seria mesmo Abdias Lima: "Tanto nas poesias cívicas como nas líricas, Antônio Justa revela possuir enormes reservas de sensibilidade. Paisagista admirável, 'Praia de Iracema', por exemplo, é um soneto que vem doirar mais a nossa antologia iracemista… Poeta e idealista, Antônio Justa com 'Ansiedade' veio aumentar a beleza existente na terra…"

     "O Tempo", seu último soneto, é uma verdadeira obra-prima. Só um poeta como Bilac ou Cruz e Sousa poderiam escrevê-lo. Transcrevemo-lo na íntegra para gáudio de todos.

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