Cláudio Alex


Samba-Canção

1. Dentro de um mundo espesso ainda te tenho apreço. Tenho um samba guardado no fundo da gaveta ao lado. Ele diz de um dia e de um lugar marcado. Fala de teu endereço mas por enquanto calado. Se esconde atrás do recado, um velho samba-canção. Cantado na mesma escala das cordas do teu coração. Venha, abre a porta, o meu palácio é só teu. Venha que sei que comportas um amor todo meu. 2. Deixe a lâmpada acesa, espere um minuto. Me ouça um instante e então eu te escuto. Não durma tão cedo. Não quero ir dormir. Diga uma coisa sincera, não feche os ouvidos. Receba meu corpo em todos sentidos. Não poupe palavras, não poupe gemidos. Deixe-me ver parte a parte, me prende e me solta. A porta está aberta e o tempo não volta e a mim pouco importa que venha insistir. De um abat-jour policromo reflete em teu rosto uma luz submersa num ar de meu gosto. Magia do incerto. Logia vital. 3. Daquele dia em diante você roubou minha paz. Minha ilusão passageira está duradoura demais. Meu pensamento no escuro está pervertido demais. Meus obscuros segredos estão misteriosos demais. Um copo d’água com açúcar senão percebo miragens. Passo a vagar pela casa lembrando as tuas bobagens. Veja, não esqueça, se lembre, telefone, me inspire coragem, a solidão me carcome não é uma vantagem. 4. Não diga que eu te induzi que me calo. Não peça opinião sobre amor eu não sei nada. Eu bem mal só sei quem sou eu. Eu não sei se você mereceu. De que vale explicar tanta coisa tanta coisa tão falha. Eu não sei se eu sofro algum mal, só você que repara. Eu não sei como é ter prazer, é uma coisa tão rara. Eu não sei como se sucedeu eu beijei e você respondeu. Eu vivi e você me acolheu. Foi o que aconteceu. 5. Olhar atento prá porta. Que duro silêncio comporta! Frio aposento vazio o pensamento saiu. Saiu prá fora do quarto a procurar já tão farta de apaziguar a saudade percorre a cidade. A campainha não toca. O telefone não chama. Na mesa, o copo, a bebida, cigarro que queima a cama. Apago a luz, adormeço me abraço com meu silêncio, e aconchego o vazio nesta noite de frio.


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