Augusto Massi


RONDÓ DA CONSOLAÇÃO

Nossa Senhora da Consolação Protegei-nos em nossa peregrinação Ao cruzar tua estéril e única praça, Teus hotéis baratos, cartórios às traças E, no Mackenzie, o graffito da mijada. Consolai Estendei-nos suas mãos de asfalto E o refrão que nos toma de assalto Mal partimos de tua morada. Consolai Dissipai minha solidão de pária, Na tua ampla quadra mortuária, Bombeiros chamuscados de mistério, E o vasto paredão do cemitério. Nossa Senhora da Consolação, Consolai Das tarefas fatigantes da errância, Procuro novas capelas tão em voga, A santa prostituição de Dona Olga, Consolai Olhai, Nossa Senhora das variedades, Pelo Sujinho, a melhor bisteca da cidade, Pela longa lista de lojas de lustres, Pelo Riviera dos anônimos ilustres, Pelas seis salas do Belas Artes, Consolai Vago na multidão que te envenena, Infortúnios que a miséria encena. Em qualquer trecho desta rua, Consolai Nossa Senhora da Consolação, Aforismo trágico da contradição, Bizarra colisão entre vida e arte, Ruga enraizada no rosto da cidade, Nosso último verso moderno, Consolai


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